Chama-se LEMA e é o primeiro site português nascido para ajudar na Matemática as crianças com perturbação do espectro do autismo. Mas mais do que os números, esta iniciativa quer ainda auxiliar os mais pequenos nas áreas da linguagem, leitura, planeamento ou gestão de emoções.
A ideia é de Isabel Santos, desenvolvida no Doutoramento em Multimédia em Educação na Universidade de Aveiro. E é ela que explica, em comunicado, que “os resultados obtidos nas sessões de aferição com crianças e com professores e educadores da Educação Especial permitem assumir o LEMA como um importante instrumento de apoio à promoção do desenvolvimento do raciocínio matemático em crianças com PEA”.
O LEMA, das iniciais em inglês de Learning Environment on Mathematics for Autistic children, é facilmente acessível a partir do link http://lema.cidma-ua.org e é também “um auxiliar aos desenvolvimentos da linguagem e leitura, do planeamento, da memorização, da gestão de emoções, da atenção e concentração e da interação entre pares”.
Desta forma, considera Isabel Santos, o ambiente digital “poderá constituir-se como um instrumento pedagógico relevante para a premissa de uma escola inclusiva, garantindo o acesso e equidade de crianças com perturbação do espectro do autismo ao processo de ensino e de aprendizagem, preparando a sua transição para uma vida ativa em sociedade”.
Mais de 30 classes de atividades
Destinado a crianças entre os 6 e os 12 anos diagnosticadas com perturbação do espectro do autismo, o LEMA contém dois perfis de utilizadores: um para o educador e outro para a criança. Integra 32 classes de atividades de matemática, cada uma delas subdividida em cinco subclasses, de acordo com níveis de dificuldade.
A plataforma permite não só a seleção personalizada de uma até dez classes e subclasses de atividades tendo em conta o perfil funcional do utilizador-aluno, como ainda a visualização do registo de desempenho de cada aluno na realização das atividades propostas por parte do utilizador-educador.
Número de crianças com autismo a aumentar
“O layout das atividades/desafios satisfaz os requisitos identificados por vários investigadores da área das tecnologias digitais para crianças com perturbação do espectro do autismo, nomeadamente a presença de poucos itens no ecrã, a utilização de linguagem visual e textual simples e direta e a integração de informações em múltiplas representações, como texto, vídeo, áudio e imagem, fornecendo instruções e orientações claras”, explica Isabel Santos.
O número de alunos diagnosticados com esta perturbação tem aumentado nas últimas décadas em Portugal. O estudo mais recente, realizado pela Federação Portuguesa de Autismo, refere-se a 2011 e 2012 e dá conta de uma prevalência de 15,3 crianças/jovens diagnosticadas em cada 10 mil.
“Apesar das tecnologias digitais terem sido identificadas, pela comunidade científica, como um recurso de grande interesse para indivíduos com esta perturbação são escassas as pesquisas que exploram a sua efetiva utilização no sentido do desenvolvimento de capacidades matemáticas de crianças com autismo.”
Por isso, o LEMA de Isabel Santos quer também chamar a atenção para a necessidade de se desenvolverem mais ambientes digitais promotores do desenvolvimento de capacidades destas crianças.
Preparado para ser utilizado pelos mais variados dispositivos tecnológicos (computador, tablet, smartphone, etc) e nos mais variados contextos (sala de aula, casa, gabinetes psicoeducativos, etc), o trabalho de Isabel Santos foi orientado pelas professoras Ana Breda, do Departamento de Matemática, e Ana Margarida Almeida, do Departamento de Comunicação e Arte.
O LEMA foi desenvolvido pela Linha Temática Geometrix, do Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações, emergindo de uma colaboração frutífera entre esta unidade de investigação e a Digital Media and Interaction (DigiMedia) da Universidade de Aveiro.