Scroll Top

Projeto nacional quer usar a família para melhor vida dos doentes renais

família dos doentes renais

‘Together We Stand’ é o nome de um projeto, desenvolvido por investigadores da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, que usa a intervenção familiar para melhorar a vida dos doentes renais crónicos, a fazer hemodiálise.

A ideia, que recebeu um financiamento superior a 210 mil euros da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, visa desenhar e avaliar uma intervenção em autogestão da doença centrada na família, destinada a doentes renais adultos em hemodiálise e aos seus familiares.

“A intervenção parte do pressuposto de que uma condição de saúde como a insuficiência renal crónica terminal não atinge apenas o paciente, mas cada membro da família e a família como sistema ou unidade. Neste sentido, será desenvolvido um programa psico-educativo com o objetivo de capacitar o doente e os seus familiares para uma melhor gestão da doença e adaptação funcional à mesma, explica Daniela Figueiredo, investigadora do CINTESIS e docente da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, que é a investigadora principal deste estudo.

Ajudar a aumentar a adesão dos doentes renais aos tratamentos

Em comunicado, a Universidade de Aveiro revela que esta intervenção será composta por seis ou oito sessões, no formato de grupos de discussão multifamílias, devendo “contribuir para aumentar a adesão dos pacientes aos tratamentos de hemodiálise”.

Uma adesão que não é elevada. De resto, a frequência inadequada das sessões pode chegar mesmo aos 35%.

“A hemodiálise é muito exigente para a pessoa com insuficiência renal crónica terminal, mas também para os familiares mais próximos que representam a sua principal fonte de apoio”, refere a investigadora.

“Os tratamentos exigem mudanças muito significativas no estilo de vida, pois os pacientes têm de aderir a um regime de tratamento complexo que implica frequentar sessões de hemodiálise três a quatro vezes por semana, entre quatro a cinco horas por sessão.”

É aqui que entra a família, que “presta frequentemente apoio emocional, isto é, ajuda a gerir as emoções que decorrem do impacto dos tratamentos hemodialíticos, ajuda na gestão medicamentosa, no cuidado do acesso vascular, a reestruturar toda a vida social, incluindo as viagens de férias, acompanha o paciente às consultas e sessões de diálise. Ou seja, toda a família tem de se reorganizar para se adaptar a esta nova condição e isso, por vezes, também pode levar à sobrecarga de quem está mais próximo”.

De acordo com Daniela Figueiredo, “existe uma associação entre a taxa de sobrevivência destes doentes renais e o suporte familiar. Por exemplo, a perceção de elevado suporte familiar tem sido associada a uma maior taxa de utilização de serviços de saúde por parte de pessoas com esta condição. Neste sentido, também é importante apoiar os familiares de forma a evitar a disrupção do apoio que prestam à pessoa com insuficiência renal crónica terminal”.

Combater a depressão

O projeto tem ainda outro objetivo: ajudar a manter a mudança comportamental dos doentes renais a médio prazo e a prevenir a rutura do suporte familiar.

“A depressão é, sem dúvida, um dos mais importantes sinais de desajustamento, com valores que de prevalência que podem variar entre os 12 e os 40%. Tem-se verificado que a depressão, por sua vez, se associa a uma má nutrição e desadequada adesão aos tratamentos hemodialíticos e regime medicamentoso. Existem até alguns estudos que observaram a depressão como fator preditor de desistência da hemodiálise”, refere.

Posts relacionados