Com cerca de 100 milhões de pessoas afetadas em toda a Europa, qualquer coisa como um em cada cinco adultos, a dor crónica pode ter um impacto devastador na qualidade de vida, manifestando-se em qualquer parte do corpo, sem causa óbvia ou função útil, persistindo por meses ou até anos e tradicionalmente difícil de tratar. É sobre ela que fala a revista Research*eu, que partilha informação sobre os projetos financiados pela União Europeia para combater a dor.
São diferentes as causas e tipos de dor crónica, ainda que, na Europa, os doentes costumem queixar-se mais da dor nas costas.
O que é facto é que costuma demorar até conseguirem um diagnóstico preciso, com alguns dados a apontarem que mais de 50% dos europeus que sofrem de dor crónica esperam pelo menos dois anos para a conseguir gerir de forma adequada.
O facto de, no Velho Continente, o envelhecimento ser uma constante, tornará a gestão da dor crónica um fardo cada vez maior para os sistemas de saúde, sendo necessários novos tratamentos e soluções para tratar com eficiência o que provavelmente será um exército crescente de pessoas com este problema.
É para lhes dar resposta que foi criado o projeto NANOHEDONISM, que aposta em nanopartículas injetáveis, capazes de libertar anestésicos onde e quando necessário, ao contrário das opções atuais para gerir a dor, que são limitadas ao alívio a curto prazo.
Embora alguns tratamentos possam proporcionar até uma semana de alívio da dor, fazem-no através de uma explosão ou de um perfil constante de libertação de anestésicos, que não são adaptados às mudanças na vida do doente ou dos seus níveis de dor.
“Estes sistemas convencionais não podem impedir a libertação até que o medicamento se esgote”, refere Manuel Arruebo, investigador da Universidade de Zaragoza, Espanha.
“No entanto, existem muitas doenças que exigem a libertação apropriada de um determinado medicamento, num momento específico, incluindo diabetes, distúrbios hormonais e dor ciática”, acrescenta.
Gerir a dor crónica onde e quando é mais preciso
Com o apoio do projeto NANOHEDONISMO, financiado pela UE, Arruebo e sua equipa de investigadores está a desenvolver sistemas reversíveis que permitem que um medicamento seja libertado onde e quando for necessário. Ou seja, um alívio da dor à medida das necessidades.
O objetivo era desenvolver nanopartículas carregadas de medicamentos injetáveis e biodegradáveis, capazes de libertar medicação conforme necessário.
Para isso, foi criado um sistema de distribuição de medicamentos visíveis e infravermelho próximo, ativados através de uma luz laser, aplicada externamente, que permite que o medicamento seja libertado conforme necessário.
“A nossa ideia era desenvolver cápsulas que podem libertar apenas um pouco de anestésico quando necessário e que podem ser ligadas e desligadas repetidamente sem ter que injetar novamente material adicional”, explica.
Uma tecnologia que, segundo Arruebo, “tem o potencial de permitir que o doente ou o médico decida quando administrar o medicamento de forma minimamente invasiva e forneça doses analgésicas terapêuticas durante o tempo necessário”.