Já ouviu falar na quinoa, um pseudocereal (não é um cereal, mas tem características semelhantes) originário dos Andes? Se ainda não, está na hora de o fazer, uma vez que, de acordo com um estudo que vem de Espanha, tem o potencial de prevenir a diabetes tipo 2.
São muitas as vantagens nutricionais da quinoa: é extremamente rica em vitaminas do complexo B e vitaminas E e C, além de minerais como cálcio, ferro e magnésio; é também uma boa fonte de hidratos de carbono complexos e fibras, e contém uma elevada concentração de proteínas com todos os aminoácidos essenciais, que são os que temos de incluir na nossa alimentação.
Devido a estas propriedades nutricionais, levantou-se a hipótese de que uma dieta à base de quinoa poderia ter um impacto favorável em certas doenças cardiovasculares e outras doenças metabólicas, como a diabetes tipo 2. No entanto, não havia estudos científicos para apoiar estas alegações.
“Fizemos uma revisão para saber o que a literatura científica tinha a dizer sobre todos os benefícios atribuídos à quinoa e descobrimos que não havia evidências científicas anteriores, apenas hipóteses, e que todos os estudos realizados no passado se focavam apenas em componentes ou nutrientes, sem levar em conta o alimento como um todo”, explica Diana Díaz Rizzolo, membro da Faculdade de Ciências da Saúde da Universitat Oberta de Catalunya (UOC) e investigadora do Instituto de Pesquisa Biomédica August Pi i Sunyer.
Estudos recentes em ratinhos observaram que os polifenóis, um tipo de micronutriente presente na quinoa, podem ajudar a manter os níveis de açúcar no sangue baixos. Isso é importante porque as pessoas com diabetes tipo 2 têm picos de açúcar no sangue após consumir alimentos ricos em hidratos de carbono, já que o seu corpo não produz insulina suficiente ou não consegue detetar a insulina produzida pelo pâncreas.
A investigadora e a sua equipa quiseram então ver o que aconteceria se removessem da dieta alimentos ricos em hidratos de carbono, responsáveis pelos aumentos mais rápidos nos níveis de glicose no sangue, e os substituíssem por quinoa e alimentos feitos a partir deste pseudocereal. O objetivo era determinar se essa substituição poderia ter um impacto positivo na prevenção da diabetes tipo 2 em pessoas com alto risco de desenvolver a doença.
Quinoa, uma caixinha de boas surpresas
A diabetes tipo 2 é uma doença metabólica e uma das principais causas mundiais de morte prematura. Todos os anos, uma em cada dez pessoas é diagnosticada e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta foi mesmo a causa da morte de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo só em 2019, estando a sua prevalência a aumentar.
Mas a diabetes tipo 2 é precedida por um estado anterior chamado “pré-diabetes”, durante o qual é possível prevenir a doença se forem tomadas medidas.
“Setenta por cento das pessoas com pré-diabetes irão desenvolver a doença. Essa taxa de conversão é ainda maior entre os adultos mais velhos, o que significa que a pré-diabetes mais o envelhecimento equivale a um tremendo aumento no risco de desenvolver a doença. É por isso que queríamos ver se a quinoa pode ser usada para prevenir o aparecimento da doença neste grupo”, refere Díaz Rizzolo.
Por isso, para o estudo, foram recrutados indivíduos pré-diabéticos com mais de 65 anos, idade que, por si só, já é um fator de risco para o desenvolvimento da doença, que pode começar, silenciosamente, dez anos antes de ser diagnosticada. E foram substituídos os alimentos ricos em hidratos de carbono complexos, como cereais, leguminosas, tubérculos e massas, por quinoa e alimentos feitos com este pseudocereal.
“Comparamos os padrões de açúcar no sangue e descobrimos que, quando os participantes ingeriram quinoa, o pico de açúcar no sangue foi menor do que com a sua dieta habitual”, refere a especialista. “Isso é essencial, porque esses picos de açúcar no sangue pós-refeição são um fator determinante na progressão da diabetes tipo 2.”
O estudo descobriu ainda que a dieta à base de quinoa ajudou a controlar os níveis de lipídeos no sangue, e é por isso que acreditam que pode ser útil no controlo do colesterol alto e de outros fatores associados ao risco cardíaco.
“A quinoa contém um alto nível de gorduras insaturadas, antioxidantes e polifenóis, com claros benefícios cardiovasculares.”