Todos os anos, mais de 200.000 crianças com menos de 15 anos são diagnosticadas com cancro em todo o mundo, e quase 75.000 morrem com a doença. A maioria destas mortes ocorre em África, na Ásia e na América Latina, embora o cancro infantil seja mais comum na Europa e na América do Norte. Nos países de rendimento elevado, mais de 80% das crianças sobrevivem, enquanto a média global é de apenas 37%. Porque é essa diferença tão grande?
Um estudo internacional, que utilizou dados da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), analisou dados de quase 17.000 crianças em 23 países de África, Ásia e da América Latina. Os resultados mostram diferenças impressionantes: em Porto Rico, quase 80% das crianças com tumores do sistema nervoso central sobrevivem três anos após o diagnóstico, em comparação com apenas 32% na Argélia. Para a leucemia, a disparidade é ainda maior: de 30% no Quénia a 90% em Porto Rico.
A sobrevivência está intimamente associada ao nível de desenvolvimento de um país. Estas variações refletem, em grande parte, diferenças nos sistemas de saúde e podem ser atribuídas ao diagnóstico tardio, às opções de tratamento limitadas, à qualidade dos cuidados abaixo do ideal ou ao abandono do tratamento.
Além disso, muitos países carecem de registos de cancro fiáveis, o que dificulta a determinação da verdadeira dimensão do problema.
“As diferenças gritantes na sobrevivência – de mais de 80% nos países de rendimento elevado para menos de 40% em alguns países de rendimento baixo e médio – realçam a necessidade urgente de agir”, comenta a primeira autora deste estudo, Dagrun Slettebø Daltveit, da Universidade de Bergen.
A urgência de um acompanhamento mais eficaz
“A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu o objetivo de aumentar a sobrevivência global para pelo menos 60% até 2030”, afirma Isabelle Soerjomataram, Vice-Chefe do Departamento de Vigilância do Cancro da IARC.
“Para alcançar este objetivo, os países devem investir em registos de cancro baseados na população para medir a carga da doença e acompanhar o progresso no controlo do cancro infantil.”
O estudo fornece parâmetros essenciais para monitorizar as melhorias e demonstra que muitas mais vidas podem ser salvas através do diagnóstico precoce e do tratamento eficaz.
“Os nossos resultados apoiam o objetivo da OMS de alcançar pelo menos 60% de sobrevivência para as crianças com cancro até 2030. Para atingir este objetivo, o investimento em registos de cancro e em infraestruturas de saúde é fundamental”, acrescenta Daltveit.
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