
Há considerações que, de tanto serem repetidas, se tornam verdades sem nunca o terem sido. A ideia de que as varizes são uma inevitabilidade associada à idade, ou que os saltos altos causam doença venosa crónica são apenas algumas destas conceções erradas. É sobre estes mitos que fala Joana Ferreira, médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular, deitando por terra ideias que podem atrasar diagnósticos e tratamentos.
Mito 1
“Uma das coisas que os doentes muitas vezes pensam, assim como a população em geral, é que a Doença Venosa Crónica é um problema estético”, refere Joana Ferreira. Mas esta é apenas parte da verdade. “Estamos sobretudo a falar de uma doença que pode trazer consequências graves. Nomeadamente nas suas fases mais avançadas, pode originar inflamação nos vasos sanguíneos (flebites), alterações da estrutura da pele e outras complicações mais graves. Além destas complicações graves, causa muitas vezes dor, com um compromisso da qualidade de vida”, esclarece.
Mito 2
São muitos os que acreditam que as varizes estão associadas ao envelhecimento, sendo normal o seu aparecimento. “Ou seja, não consideram que têm doença venosa crónica e não procuram ajuda”, refere a especialista. Isto apesar de, assegura, serem hoje cada vez mais os que “percebem que é uma doença”.
Mito 3
Falar de doença venosa crónica não é falar apenas de varizes, ainda que se continue a perpetuar esta ideia. “É muito mais do que varizes. Aqueles raios, aquelas aranhas vasculares que surgem nas pernas já são manifestações da doença. E mesmo doentes que não tenham nenhuma alteração nas pernas, mas se queixam de dor ou peso, mesmo esses já têm a doença”, refere Joana Ferreira.
Mito 4
Se é verdade que esta é uma doença que impacta muitas mulheres, não deixa de ser um facto que os homens também podem ter este problema. “É um mito que a doença é exclusiva das mulheres. Os homens também a podem ter e têm”, garante a médica.
Mito 5
E os saltos altos? Podem, de facto, causar a doença? “Não existe nenhum estudo bem desenhado que tenha provado que usar saltos altos provoca doença venosa crónica. E o mesmo é válido para o cruzar das pernas. Também não há, aqui, nenhum estudo que demonstre que cruzar a perna cause a doença. Aliás, a doença tem um forte componente genético e, muitas vezes, o único fator de risco que o doente tem é mesmo a genética.”
A especialista, que esteve presente na edição deste ano do SelfCare Market & Summit, a convite da Servier, com uma palestra sobre o tema, reforça a importância do diagnóstico precoce e tratamento atempado deste problema, que tem custos muito elevados. “Há muitos doentes que se reformam antecipadamente, há doentes que pedem para mudar de posto de trabalho, como pessoas que têm profissões que exigem estar muito tempo de pé. Há muito absentismo laboral, porque o compromisso da qualidade de vida é enorme, há muitas vezes que se colocam baixas médicas.”