A encefalite, doença que envolve a inflamação ou inchaço do cérebro, pode surgir devido a infeções ou problemas no sistema imunitário. E, aqui, o tratamento precoce é importante. É por isso que Sarosh Irani, neurologista e investigador da Mayo Clinic, nos EUA, considera essencial aumentar a sensibilização.
“Vários médicos, e certamente o público em geral, não estão cientes do que é a encefalite. No entanto, é uma emergência médica, onde sabemos que o tratamento precoce faz uma grande diferença para os nossos doentes, tanto aqueles com as formas infecciosas da doença, e talvez a mais comum atualmente, como aqueles com as formas autoimunes da doença”, revela Irani.
Os dois principais tipos de encefalite são os infecciosos e os autoimunes, ainda que em alguns casos a causa exata deste problema permaneça por identificar.
Mas há factos importantes que todos deviam saber sobre a encefalite infecciosa. Por exemplo, que é causada por vírus que invadem o cérebro, tais como herpes e enterovírus; que há mosquitos que também podem transmitir os vírus que podem causar a encefalite e que os sintomas se desenvolvem rapidamente, ao longo de dias ou semanas.
A maior parte das pessoas com encefalite infecciosa começa com sintomas como dor de cabeça e febre, que podem evoluir para sintomas mais graves no espaço de horas ou dias, como confusão, alterações de personalidade, convulsões e perda de sensibilidade ou movimento em áreas específicas do corpo.
Encefalite autoimune: o que saber
O sistema imunitário ataca equivocadamente o cérebro e o seu alvo são pessoas desde o primeiro ano de vida até aos 80 anos, tanto mulheres como homens.
Algumas formas afetam sobretudo jovens ou idosos, homens ou mulheres e podem ser desencadeadas por uma infeção noutras partes do corpo (encefalite autoimune pós-infecciosa) ou por um tumor (encefalite autoimune paraneoplásica). Contudo, em cerca de 90% das situações, a causa não é encontrada.
Os sintomas podem desenvolver-se rapidamente, como na encefalite infecciosa, ou mais lentamente durante semanas ou meses, e podem não incluir febre. Sintomas que podem incluir alterações de personalidade, perda de memória, problemas de compreensão da realidade (psicose), alucinações (ver ou ouvir coisas que não existem), convulsões e movimentos incomuns.
“A prevenção é um desafio importante”, afirma Irani. “Não temos medidas preventivas consistentes para estas doenças. Apenas algumas causas infecciosas podem ser evitadas com a vacinação. Existem também algumas causas de encefalite infecciosa que podemos prevenir limitando a propagação de pessoa para pessoa ou tentando impedir, por exemplo, vetores como os mosquitos que infetam alguns pacientes. Contudo, para causas autoimunes, não sabemos como prevenir esta doença, isso ainda é uma questão importante para todos os nossos doentes”, afirma.
“Um dos nossos principais objetivos, ao nível da investigação, é descobrir como podemos educar outros neurologistas e médicos em todo o mundo para identificar pacientes precocemente e dar-lhes um tratamento precoce”, acrescenta, reforçando que a investigação tem como foco o uso da ciência para criar tratamentos personalizados que fazem a diferença para os doentes.
“Eu vejo-nos como um grupo de pesquisa translacional. Nós encontramos os doentes, cuidamos deles clinicamente e recolhemos amostras destes para entendermos melhor essas doenças”, explica. “Em seguida, comparamos os resultados clínicos com os recolhidos no nosso laboratório.”
“Queremos saber como as células do sistema imunitário que causaram a doença apareceram, como se perpetuam, para que compartimentos corporais vão, em quais partes do corpo residem e, claro, principalmente como podemos excluí-las com precisão sem causar muitos efeitos secundários.”
Isto para que, a curto prazo, possa ajudar os doentes, “dando aos médicos uma melhor compreensão de quando devemos tratar os pacientes, de como devemos identificá-los e quais tratamentos podem ser mais eficazes para cada cenário”, explica.
“A longo prazo, espero que possamos construir uma plataforma através da qual possamos questionar sobre cada uma destas doenças e, como todas são ligeiramente diferentes umas das outras, tentar saber como diferenciá-las. E como podemos oferecer ao doente certo o tratamento certo no momento certo.”