
Uma simples fotografia digital do fundo do olho, à retina,pode prever um evento cardiovascular grave, como um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral, durante a próxima década, com 70% de precisão, revela uma investigação apoiada pela British Heart Foundation e pelo National Institute for Health and Care Research (NIHR).
Os investigadores acreditam que os exames de retina, feitas rotineiramente, podem também ser utilizados para monitorizar a saúde cardíaca das pessoas ao longo do tempo, uma vez que se encontraram associações entre a mudança na pontuação de risco de uma pessoa e as suas hipóteses de um evento cardiovascular grave.
O exame da retina é analisado através de Inteligência Artificial (IA), que demora apenas uma fração de segundo para produzir uma previsão de risco personalizada.
As pessoas com maior risco podem ser encaminhadas para um médico de clínica geral, que pode acabar por prescrever tratamento para a pressão arterial ou estatinas para reduzir o colesterol. No futuro, os investigadores esperam que qualquer pessoa que faça um exame oftalmológico possa receber um alerta sobre a sua saúde cardíaca no seu smartphone.
Ify Mordi, investigador da British Heart Foundation na Universidade de Dundee e cardiologista consultor, que liderou o estudo, garante que “pode ser surpreendente, mas os olhos são uma janela para o coração. Se houver danos ou estreitamento dos vasos sanguíneos na parte posterior do olho, há uma boa probabilidade de que isso também seja observado nos vasos sanguíneos mais internos do corpo, que irrigam o coração, o que pode levar a um ataque cardíaco ou a um acidente vascular cerebral“.
“Este é um exame único, realizado de rotina e que demora menos de um minuto. Pode ser uma parte importante do pacote, juntamente com as verificações da pressão arterial e do colesterol, na identificação de pessoas que podem beneficiar de medicação ou de mudanças no estilo de vida.”
Tecnologia melhora previsões
Investigadores da Universidade de Dundee desenvolveram tecnologia de IA para analisar fotografias digitais da retina, que geralmente fazem parte de exames oftalmológicos de rotina.
Em primeiro lugar, a IA foi instruída para procurar sinais de alerta, como estreitamento, bloqueios e danos nos vasos sanguíneos, que poderiam ser sinais de problemas cardíacos iminentes. Em seguida, foi adotada uma abordagem de “caixa preta”, permitindo que a tecnologia utilizasse aprendizagem profunda de máquina para procurar qualquer detalhe nas imagens, que poderia ser referente ao tamanho e à disposição dos vasos sanguíneos.
Depois de ter sido treinada com cerca de 4.200 imagens, a IA de caixa negra foi avaliada quanto à sua capacidade de prever quais as pessoas que iriam sofrer um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral, ou morreriam de doença cardiovascular na década seguinte. A equipa descobriu que a IA de caixa preta previu 70% destes casos quando testada em exames de imagem dos olhos de mais de 1.200 pessoas.
A equipa comparou ainda a tecnologia de IA com a previsão que as pessoas obtêm atualmente nos exames de saúde de rotina com o seu médico de clínica geral, ou seja, a sua “pontuação de risco cardiovascular”, que fornece uma percentagem de risco de alguém sofrer um evento cardíaco grave na próxima década, com base em fatores como a idade, o sexo, a pressão arterial, o nível de colesterol e o tabagismo.
Os investigadores descobriram que a pontuação de risco e a avaliação da retina identificaram quase exatamente a mesma proporção de pessoas em risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte por doença cardiovascular.
Quando se combinou a pontuação de risco clínico, a avaliação da retina e um teste genético adicional, a precisão aumentou para 73%. Isto significa que os três juntos poderão potencialmente identificar mais três pessoas em cada 100 em risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte por doença cardiovascular.
A ferramenta de IA foi testada no estudo com pessoas com diabetes, que realizam exames de retina no serviço nacional de saúde britânico para verificar complicações que afetam os olhos. Mas os investigadores afirmam que a análise dos vasos sanguíneos do olho para avaliar o risco cardiovascular deve funcionar para a maioria das pessoas, e não apenas para as que têm diabetes.
Bryan Williams, diretor científico e médico da British Heart Foundation, considera que “quanto maior a precisão para detetar o risco de um ataque cardíaco ou de um acidente vascular cerebral, maiores serão as oportunidades para os prevenir. Inovações de ponta, como a utilização de exames de retina em conjunto com exames de saúde, podem contribuir para melhorar a previsão do risco”.