
O que é que a iliteracia tem a ver com a saúde cardiovascular? Tudo, refere um novo estudo, que confirma que a falta desta é uma barreira que impede os doentes de beneficiarem dos tratamentos mais eficazes para o enfarte, insuficiência cardíaca ou AVC.
Publicado na revista Circulation, o estudo, que se socorreu de análise realizadas entre 2004 e 2016, mostra que mais de metade das pessoas com iliteracia na área da saúde não reconhecem que os valores de pressão arterial de 160/100 mmHg são elevados, tornando menos provável que a mantenham controlada.
Mas há mais: são também mais propensas a depender da nicotina e têm três vezes mais probabilidade de recaída após passagem por um programa de cessação tabágica. Para os que sofrem com diabete, o risco de desenvolverem complicações associadas à doença, como a retinopatia diabética, é também superior.
São ainda 1,7 vezes menos propensos a usar um portal de saúde, uma tecnologia cada vez mais usada para comunicar com os doentes e uma ajuda importante na gestão das doenças e, quando são pais, têm duas vezes mais probabilidade de olhar para um filho com excesso de peso como tendo peso normal.
Iliteracia que pode custar caro à saúde
“As oportunidades de falhas na comunicação por parte dos profissionais de saúde que tratam as pessoas com fatores de risco para doenças cardíacas e AVC são elevadas”, afirma Jared W. Magnani, professor de medicina da Pittsburgh School of Medicine, na Pensilvânia, EUA.
“Muitos dos doentes não entendem os materiais escritos que recebem como parte dos cuidados de saúde ou não possuem capacidade para entender as informações quantitativas. Para além disso, os cuidados médicos usam uma quantidade considerável de terminologia especializada, que alguns chamam de jargão”, acrescenta.
“Um doente com conhecimento limitado em saúde pode não entender que um teste de stress descrito como ‘positivo’ não é um bom resultado. Ou instruímos os doentes a evitar o sódio, quando eles não sabem como identificar e quantificar a ingestão de sódio ou até mesmo como interpretar os rótulos nutricionais.”
Falta de literacia elevada em Portugal
Não se trata aqui de saber ou não ler, mas literacia em saúde engloba a capacidade de uma pessoa fazer perguntas sobre os seus cuidados e tratamentos, compreender documentos com terminologia médica, realizar a aritmética básica necessária para tomar a medicação corretamente e negociar com provedores de saúde e seguradoras. A incapacidade de fazer estas coisas de forma eficaz tem consequências, que podem ser graves para a saúde.
Em Portugal, de acordo com os dados do relatório “Literacia em Saúde em Portugal” (2016), desenvolvido pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia/IUL (2013-15) com o objetivo de fazer uma avaliação sistematizada da literacia em saúde na sociedade portuguesa, 11% da população apresenta um nível de literacia “inadequado”
e cerca de 38% “problemático”.
Metade (50%) dos portugueses têm um nível de literacia “excelente” ou “suficiente”, mas a percentagem no nível “excelente” é apenas de 8,6%.
Ver também: Saúde cardiovascular à mesa: mitos, conselhos e sugestões