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O seu cérebro está nas suas mãos, cigarro a cigarro (a menos)

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“A 31 de maio comemora-se o Dia Mundial Sem Tabaco. Apesar de todos os esforços feitos, por várias décadas, o consumo de tabaco, e os seus malefícios, mantêm-se como um problema ativo na população, causando a morte a mais de 8 milhões de pessoas por ano. Assim, este deverá ser o Dia Mundial da Luta Contra o Tabaco”, defende Daniela Santos Oliveira, membro do grupo de jovens médicos que dinamizam a Sociedade Portuguesa do AVC (J-SPAVC) e interna de Formação Específica em Neurologia no Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga.

Daniela Oliveira
Daniela Santos Oliveira, membro do grupo de jovens médicos que dinamizam a Sociedade Portuguesa do AVC

Quando refletimos acerca dos malefícios do tabaco, de imediato associamo-los ao desenvolvimento de carcinoma do pulmão, eventualmente à doença pulmonar obstrutiva crónica ou a infeções respiratórias. De facto, o tabagismo é a principal causa de cancro do pulmão e está provado que a cessação tabágica, após 10 anos, pode reduzir o risco para metade.

No entanto, o tabagismo está também associado a uma pandemia (outra que não a COVID-19), que parece silenciosa, mas é a principal causa de morte em Portugal…o acidente vascular cerebral (AVC).

Fumar 1 maço de tabaco por dia aumenta em seis vezes o risco de ter um AVC e duplica o risco de morte em caso de AVC.

Os químicos, contidos em todos os tipos de tabaco, aumentam o risco de AVC isquémico, sobretudo pelo desenvolvimento de doença aterosclerótica, através de vários mecanismos, entre eles:

– aumento do colesterol “mau” (LDL) e diminuição do colesterol “bom” (HDL);

– diminuição da oxigenação cerebral, pelo monóxido de carbono;

– promoção de hipertensão arterial, pela nicotina;

– alterações da função plaquetar com formação de coágulos sanguíneos.

Estes químicos parecem ter, igualmente, um papel importante na estimulação de episódios de fibrilhação auricular, outra causa importante de AVC isquémico.

Para além disto, o tabaco é também um fator de risco importante para o AVC hemorrágico, não só por aumentar em três a 10 vezes o risco de rotura de aneurismas, mas sobretudo pela sua associação com hipertensão arterial. Este tipo de AVC, apesar de menos frequente, é o mais letal, apresentando uma mortalidade de cerca de 50%.

Felizmente, esta é uma causa prevenível de AVC e quanto mais cedo for tentada a cessação tabágica, maior é o impacto na redução do risco de AVC.

Após oito horas, os níveis de oxigenação sanguínea normalizam e os níveis de nicotina e monóxido de carbono diminuem em 50%. Após 2-12 semanas, verifica-se uma melhoria no sistema circulatório. Após 2-4 anos, o risco de AVC por rotura aneurismática assemelha-se ao de um não fumador. E, até 15 anos de cessação tabágica, o risco de ter um AVC é semelhante ao de quem nunca fumou.

Os benefícios da cessação tabágica são inegáveis. Procure ajuda para iniciar, hoje, esse caminho. Não queira fazer parte da contabilização anual de doentes com AVC e morte por AVC. O seu cérebro, está nas suas mãos, cigarro a cigarro (a menos).

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