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Portugal não estava preparado para a pandemia “em termos de capacidade científica”

pandemia de covid-19

A braços com uma situação sem precedentes, Portugal foi obrigado a agir e reagir face à pandemia de COVID-19, doença que nos mudou, de um momento para o outro, a forma de viver em sociedade. Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, considera que, se em termos de serviços de saúde o País “estava razoavelmente bem preparado”, apesar dos problemas com que o Serviço Nacional de Saúde tem de lidar, “em termos de capacidade científica, não”.

“A sensibilidade das entidades oficiais responsáveis pela Ciência para as doenças infetocontagiosas é muito baixa. Basta dizer que em 2018 decorreu o primeiro centenário da passagem da Gripe Espanhola e não houve qualquer ato oficial de mínimo relevo”, refere o investigador.

Segundo Miguel Castanho, o que se vê hoje “é o protagonismo do Ministério da Saúde nas matérias de COVID-19 e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior eclipsado, com pequenas medidas avulsas e puramente reativas, descontextualizadas e sem consolidação com os centros de investigação ou universidades”.

Neste momento, o especialista considera que “faz falta um plano para a saída da quarentena. É óbvio que o País não aguentará quinzena atrás de quinzena em quarentena. Também é óbvio que a quarentena não pode acabar desordenadamente para não voltarmos à estaca zero”.

O Ministério da Educação já revelou o seu, determinado pela realidade dos alunos do 12º. “O que vão fazer os outros ministérios? Há que saber planear e executar. Neste capítulo, a Ciência deveria ter um papel de destaque mas não é assim”.

Pandemia de país para país

Face a outros países, obrigados como o nosso a lidar com a pandemia, Miguel Castanho considera a comparação difícil.

Isto porque, explica, “nem todos contabilizam o número de doentes e vítimas da mesma forma, nem com o mesmo rigor; as formas mais graves de COVID-19 afetam sobretudo doentes com outros problemas de saúde e a forma como os efeitos se atribuem a cada doença são diversos. Acresce que uns países podem aparentar estar em pior situação, mas terem uma população que está a ganhar imunidade, enquanto outros aparentam estar melhor, mas as populações não estão a ganhar imunidade. É cedo para fazer ainda uma apreciação global de um problema que pode vir a persistir num prazo longo”.

Perante a forte possibilidade de uma ‘segunda vaga’, defende que é imperativo “saber evitar comportamentos de risco, mesmo em contexto social, como trabalho por turnos, partilha de espaços com distanciamento entre pessoas, uso de máscara em situações mais críticas (e.g. transportes públicos)”.

O que é certo, reforça, é que “não podemos viver com quarentenas prolongadas e frequentes. Temos que ter planos que nos permitam lidar com estes problemas de outra forma. É uma questão de política de Saúde Pública e de Proteção Civil. Tal como devemos ter planos para sismos, devemos ter planos para pandemias. Não se sabe quando, onde e como vai surgir a pandemia seguinte mas sabemos que ela acontecerá”.

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