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Quais as opiniões e perceções dos portugueses sobre a Saúde?

opiniões dos portugueses sobre saúde

Qual a sua perceção do estado da saúde em Portugal? E sobre o estado geral da sua própria saúde? Entre saúde, economia, política e segurança, qual a sua principal área de interesse? Estas foram algumas questões do Estudo TOP Health | Tendências, Opiniões e Perceções da população sobre a Saúde em Portugal, conduzido pela Associação TOP Health em parceria com a Spirituc, para compreender a satisfação com o sistema de saúde, comportamento preventivo, expectativas futuras, entre outros temas.

Cerca de 45% dos inquiridos no estudo consideraram o estado da saúde em Portugal como mau ou muito mau. E a Saúde foi destacada como a principal preocupação dos inquiridos, obtendo a maior prioridade (81,7% classificaram como a área de maior interesse), mostram os dados do estudo, apresentados por Rui Costa, da Spirituc, no dia 22 de janeiro, na sede da APIFARMA, associada desta iniciativa.

Quase 7 em cada 10 inquiridos (68,6%) acreditam que os portugueses se interessam por notícias de saúde. Tal pode justificar-se por 48% dos inquiridos terem ensino superior, tendo por isso uma maior literacia, refere Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, que acredita que os dados são um pouco otimistas.

Cerca de 76% dos inquiridos valorizam a componente proativa/preventiva perante a sua saúde, procurando ter os seguintes cuidados na gestão da mesma e do bem-estar: hábitos de alimentação saudáveis (78,4%), acompanhamento médico regular, como check-ups, consultas e exames preventivos (71,3%), prática regular de desporto (55,8%) e aconselhamento por profissionais do setor (42,7%).

No debate, a presidente da Associação Nacional de Farmácias, Ema Paulino, partilhou que acredita que o modelo one size fits all “já não corresponde à verdade, pelo que é necessário refletir como se consegue dar resposta a todas as diferenças”, que se verificam pela caracterização da própria amostra deste estudo: género, idade, nível de escolaridade.

“É um estudo muito rico e que permitiu compreender que as nossas perceções [dos farmacêuticos] estão muito alinhadas com as do estudo e dos próprios portugueses”, refere Ema Paulino.

Comunicação e literacia

Sobre a literacia em saúde, apenas quatro em cada 10 inquiridos consideram que a informação que têm nesta área é suficiente para gerirem bem o seu estado de saúde.

Num contexto em que a comunicação é cada vez mais vital para a tomada de decisões informadas, o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada corrobora a necessidade de informação imparcial para o grande público. Ao contrário da preferência dos inquiridos, que prefere notícias positivas, é um facto que os jornais comunicam, na sua maioria, notícias negativas (como concorda 81,9%), não havendo, por isso, espaço para informações sobre os novos desenvolvimentos e descobertas (66,3% dos inquiridos concordam).

Esta lacuna é ainda mais evidente quando se analisa a qualidade da informação existente: a maioria dos participantes (91%) acredita que as iniciativas e notícias de saúde devem ser comunicadas de forma mais ampla, mas um terço avalia a comunicação atual como difícil ou muito difícil de compreender.

Mais ainda, Óscar Gaspar partilha que existem cada vez menos jornalistas especializados em saúde nos meios de comunicação social nacionais e que as associações de doentes têm pouca presença nas notícias. “Todos estes aspetos impulsionam as notícias negativas, que se centram no curto prazo e no pormenor, desviando a atenção dos decisores políticos para o que é essencial.”

Estes desafios refletem-se nos níveis de satisfação e otimismo em relação à saúde em Portugal, destacando que o grau de satisfação dos portugueses com a sua saúde é moderado (6 em 10). Adicionalmente, os resultados mostram um pessimismo generalizado sobre o futuro nesta área: mais de um quarto (26%) dos inquiridos prevê uma evolução negativa, enquanto 35% acreditam que a situação atual permanecerá inalterada.

Tecnologia: uma aliada promissora

Apesar destas preocupações, a tecnologia surge como uma aliada promissora para enfrentar os desafios identificados. Cerca de sete em cada 10 portugueses recorrem à internet para procurar informações sobre saúde, e 62,1% acreditam que as soluções digitais são cruciais para melhorar a qualidade de vida.

Este dado revela um terreno fértil para iniciativas que aproveitem a tecnologia para aproximar a população de informações úteis, confiáveis e fáceis de compreender, tal como a aplicação SNS 24, uma iniciativa para as pessoas se aproximarem mais da sua saúde, facilitando o acesso aos seus dados.

O registo de saúde eletrónico pode também ser uma mais-valia para uniformizar as várias mensagens entre farmácias, hospitais e cuidados primários, destaca a presidente da Associação Nacional de Farmácias.

Ainda assim, Ema Paulino mostra-se preocupada com a utilização das novas tecnologias pela população, demonstrando que é importante não só aumentar a literacia em saúde, mas também “capacitar as pessoas para a literacia digital, com foco na existência do algoritmo, na identificação das notícias falsas e na partilha de sites fidedignos”.

Já Paulo Gonçalves, presidente da RD-Portugal, acredita que é preciso “aprender a questionar e não acreditar em tudo o que se lê” direcionando as pessoas para fontes credíveis.

“Literacia em saúde é literacia em cidadania em geral.”

Equidade no acesso à saúde

“A grande questão no Serviço Nacional de Saúde é o acesso: cerca de 1 600 000 portugueses não têm médico de família; os doentes estão largas horas à espera na urgência; e existem longas listas de espera para tratamentos e cirurgias”, reflete Óscar Gaspar. Tal verifica-se também na opinião da população, considerando que 43% dos inquiridos afirmam ainda que as entidades responsáveis pela gestão dos cuidados de saúde em Portugal não têm conseguido promover iniciativas que permitam a igualdade de acesso e a inclusão de todas as pessoas a estes cuidados no País.

O estudo realizou 602 inquéritos de 17 de outubro a 15 de dezembro de 2024, com prevalência do género feminino (52,3%), adultos com 65 ou mais anos (26,1%) e com ensino superior (48,2%). A região de Lisboa e Vale do Tejo foi onde se recolheu mais respostas (40,4%).

Em suma, Cristina Campos, cofundadora TOP Health Awards, partilha que, no início desta iniciativa, em 2023, verificaram que os portugueses tinham muito receio com o futuro da saúde e uma falsa literacia e desinformação. Anos depois, “continuamos na mesma, mas a esperança é que dê ainda mais força ao propósito da TOP Health e aos prémios, que querem dar voz aos projetos na área da saúde”.  

Cada vez mais, a população portuguesa vai aumentar as suas exigências e vai querer mais para a sua saúde, pelo que tudo o que cria mais conhecimento e literacia é bom para a população. Assim, este estudo foi um dos passos para se compreender as tendências, opiniões e perceções dos portugueses para se caminhar para a sua melhoria. Cristina Campos finaliza: “É importante comunicar mais e melhor, sermos mais unidos nesta comunicação colaborativa e avaliar o impacto da saúde nos portugueses.”

 

Crédito imagem: iStock

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