São muitos os que já o sentiram, sem perceber bem porquê: depois de um passeio pela floresta, os pensamentos parecem fluir com um pouco mais de calma, torna-se mais fácil relaxar e o mundo parece um pouco mais brilhante. Há quem lhe chame terapia florestal e vários estudos confirmam que, de facto, precisamos dela.
A depressão é um fenómeno comum, tal como a ansiedade. Os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico mostram que, em Portugal, os jovens, entre os 18 e os 29 anos apresentam taxas de sofrimento psicológico “moderado a grave”. Só em em 2020, em todo o mundo, 264 milhões de pessoas enfrentaram a depressão.
O que pode ajudar? A professora associada da Universidade de Stavanger, na Noruega, Simone Grassini quis verificar como algo tão simples como um passeio na floresta poderia ajudar com a ansiedade e a depressão. Reuniu todos os estudos que os investigadores de todo o mundo realizaram sobre este mesmo tema nos últimos dez anos e selecionou aqueles que incluíam um grupo que fazia caminhadas na floresta e um grupo de controlo, que não fazia este tipo de caminhadas. Todos lutavam contra a ansiedade e a depressão.
Seis estudos fizeram-no e os dados dizem todos a mesma coisa: que um passeio pela floresta ajuda realmente com a ansiedade e a depressão. “Estas caminhadas são um método eficaz e simples para algo com que muitas pessoas lutam”, confirma Grassini.
Ficam então as questões: é o próprio exercício que liberta os nossos nós mentais? Ou será a natureza, com a sua quietude e o ruído dos pinheiros? Será que funcionaria bem apenas sentarmo-nos num tronco de árvore? Ou é a combinação de exercício e natureza que consegue um resultado positivo? Uma pequena excursão é suficiente ou são necessárias viagens florestais numa base regular?
A resposta é simples, mas insuficiente, uma vez que não é fácil dizer, pelo menos não de um ponto de vista científico, o que resulta e porquê. “Ninguém fez uma análise sistemática desta atividade”, diz Grassini.
O impacto da floresta no cérebro
Existem, no entanto, algumas peças do puzzle. Estudos laboratoriais mostram que mesmo pequenas exposições a imagens e vídeos da natureza conduzem a uma mudança na atividade cerebral relacionada com o relaxamento e bem-estar. Outros mostram que o próprio exercício tem um efeito positivo sobre a experiência do bem-estar.
“Estudos realizados ao ar livre mostraram que mesmo uma curta exposição a um ambiente florestal leva a uma menor atividade no centro de medo do cérebro”, afirma Grassini.
Mas ainda não existe um método cientificamente fundamentado para a forma como a terapia florestal deve ser levada a cabo em termos concretos. Uma caminhada por semana é suficiente, ou é preciso fazer quatro? Meia hora é suficiente, ou tem de se ausentar durante duas horas?
Embora o poder curativo da natureza não tenha sido analisado utilizando métodos científicos, é algo sobre o qual muitos filósofos têm pensado. “De uma perspetiva filosófica, os resultados dos estudos sobre o impacto de estarmos na natureza não são surpreendentes”, refere Solveig Bøe, professor de filosofia na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, que aponta para o facto fundamental de que os seres humanos também fazem parte da natureza.
“Se recuarmos o suficiente na nossa história evolutiva biológica, estamos relacionados com tudo o que vive e tem vivido. Um filósofo com quem trabalhei durante algum tempo, Merleau-Ponty, argumenta que onde quer que haja vida na natureza, há um significado. Este significado tem ressonância entre nós”, diz Bøe, que acredita que isto explica porque é que estar na natureza parece ter significado.
“Em espaços verdes, rodeados de canto de pássaros, o som da água corrente, o cheiro da vegetação, compreendemos que somos parte de algo maior. Pode fazer-nos bem e ajudar-nos a esquecermo-nos de nós próprios durante algum tempo”, acrescenta.