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Sintomas de depressão afetam 42% dos adolescentes em Portugal

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São já conhecidos os resultados do programa de prevenção do suicídio em contexto escolar, Mais Contigo, que revelam que o género feminino denota os piores indicadores de saúde mental. E mostram ainda que 42,2% os adolescentes no País apresentavam sintomatologia depressiva no último ano letivo (2021-2022).

De acordo com os dados obtidos, tendo por base uma amostra de 5440 jovens, com uma média etária de cerca de 14 anos e a frequentarem mais de 150 escolas de norte a sul de Portugal (incluindo a região autónoma da Madeira), 28,5% dos adolescentes expressaram indícios e manifestações de depressão moderados (13,3%) ou graves (15,2%), sendo que as raparigas manifestaram maiores vulnerabilidades dos que os rapazes.

Trata-se, segundo o coordenador do programa e professor de saúde mental e psiquiátrica na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), José Carlos Santos, da “maior incidência de sintomatologia depressiva desde o início do Mais Contigo”, há 12 anos, sendo que “já no ano passado a percentagem fora a maior até então”.

Bem-estar dos adolescentes melhora com intervenção

Os resultados desta intervenção mostram também algo positivo: entre o diagnóstico de situação, as intervenções em contexto escolar (cinco sessões) e a avaliação final, constata-se uma melhoria ao nível do bem-estar e do autoconceito, com uma associada diminuição da sintomatologia depressiva.

“Estão todos de parabéns”, congratulou-se José Carlos Santos, ao intervir na sessão de abertura do XI Encontro Mais Contigo, realizado na ESEnfC, onde agradeceu “todo o trabalho desenvolvido pelas equipas locais, sobretudo dos cuidados de saúde primários, na implementação do programa”.

“Temos sabido, pouco a pouco, de forma sustentável, solidificar o Mais Contigo e fazê-lo chegar, de forma responsável, a mais pessoas em mais regiões”, notou o docente do ensino superior.

Para José Carlos Santos, “estes resultados aumentam a responsabilidade de todos: pais, professores, auxiliares, profissionais de saúde, autarquias e políticos”, seja “pela proximidade e pelo olhar necessário, pelo saber escutar, pela capacidade de estar presente”, ou “pelas respostas imediatas mais especializadas” junto dos adolescentes.

O coordenador do programa considera que “tudo isto fará sentido se a saúde mental, ultrapassada a pandemia, conseguir ser uma prioridade, tiver um planeamento nacional, mas não perdendo o olhar e práticas de proximidade” e acredita que “o recente decreto-lei nº 113/2021 (que estabelece os princípios gerais e as regras da organização e funcionamento dos serviços de saúde mental) nos responsabiliza a todos nesta visão”.

O enfermeiro José Carlos Santos voltou a alertar que o trabalho que tem sido desenvolvido e “apela a uma maior necessidade de presença de profissionais de saúde mental nas escolas, sejam psicólogos ou enfermeiros de saúde mental, mas também de maior interligação entre a escola e as instituições de saúde” para apoio às crianças e adolescentes.

“O estigma, os processos de negação, de vergonha, de medo, de incompreensão e de falsos conceitos estão ainda presentes e dificultam intervenções atempadas”, advertiu o professor da ESEnfC. Para José Carlos Santos, “as razões da existência do Mais Contigo são cada ano mais aprofundadas”, sendo que “o impacto da pandemia, com mais procura de cuidados de saúde mental, com mais distúrbios de ansiedade, de sintomatologia depressiva e mais alterações comportamentais, reforçam a sua importância”.

O coordenador do Mais Contigo salientou, ainda, a “dificuldade de prevenir os comportamentos suicidários, um comportamento complexo, multifacetado, onde as determinantes sociais têm um peso importante e onde a saúde é um dos interlocutores, mas está longe de ser o único, implicando medidas globais, criando sinergias entre os diversos ministérios, da Segurança Social, Emprego, Educação, Ensino Superior, Administração Interna e diversos organismos não-governamentais”.

No último ano letivo, o programa Mais Contigo contou com a colaboração de 18 agrupamentos de centros de saúde das administrações regionais de Saúde do Centro, de Lisboa e Vale do Tejo, do Alentejo, do Algarve e do Norte, que colaboraram nas intervenções realizadas em 69 agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas, 88 escolas e colégios, junto de centenas de adolescentes.

Este projeto de âmbito nacional trabalha aspetos como o estigma em saúde mental, o autoconceito e a capacidade de resolução de problemas, devidamente enquadrados entre os adolescentes.

O programa Mais Contigo é promovido em Portugal, desde o seu início, pela ESEnfC e pela ARS do Centro, com uma forte presença de enfermeiros do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, contando já com múltiplos parceiros de norte a sul do País e nos territórios insulares.

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