As pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca aguda têm um risco quase duplicado de morte em caso de infeção pela COVID-19, revela um estudo publicado na ESC Heart Failure, um jornal da Sociedade Europeia de Cardiologia. Um trabalho que reforça a importância destes doentes terem cuidados acrescidos para evitar contrair COVID-19.
“Os nossos resultados vão de encontro à necessidade de dar prioridade às pessoas com insuficiência cardíaca para a vacinação contra a COVID-19“, refere Amardeep Dastidar, investigador principal do estudo e cardiologista de intervenção no North Bristol NHS Trust e Bristol Heart Institute, no Reino Unido.
“Enquanto isso, doentes com insuficiência cardíaca de todas as idades devem ser considerados um grupo de alto risco e ser aconselhados a manter distanciamento social e usar máscara para prevenir infeções.”
Avaliação de doentes com insuficiência cardíaca aguda
A insuficiência cardíaca refere-se ao enfraquecimento progressivo da função de bombeamento do coração, apresentando sintomas como falta de ar, inchaço dos tornozelos e fadiga. O agravamento súbito dos sintomas é chamado de insuficiência cardíaca aguda, que é uma emergência médica e requer internamento hospitalar para medicação intravenosa e monitorização intensiva.
Este estudo examinou as taxas de encaminhamento para insuficiência cardíaca aguda durante a pandemia e mortalidade a 30 dias.
A análise incluiu 283 pessoas com insuficiência cardíaca aguda, internadas no departamento de cardiologia do North Bristol NHS Trust, dois terços das quais com insuficiência cardíaca crónica e deterioração aguda.
Foram definidos dois grupos: antes da COVID (7 de janeiro a 2 de março – oito semanas) e após a COVID (3 de março a 27 de abril – oito semanas; ou seja, durante a pandemia).
Durante a pandemia, assistiu-se a uma queda substancial, mas estatisticamente não significativa, nas admissões por insuficiência cardíaca aguda. Ao todo, 164 pessoas foram admitidas nas oito semanas antes da COVID em comparação com 119 após a COVID – uma redução de 27%.
“Esta descoberta pode refletir as preocupações do público sobre o distanciamento social no início do confinamento, relato tardio de sintomas e ansiedade em relação ao atendimento hospitalar”, explica Dastidar.
“Para reforçar essas explicações, os nossos dados demonstram um aumento durante as últimas semanas de confinamento, de acordo com relatos dos media do Reino Unido, que incentivaram os doentes a procurar atendimento médico, se necessário”.
Taxa de mortalidade quase o dobro
A taxa de mortalidade a 30 dias dos doentes com insuficiência cardíaca aguda quase duplicou durante a pandemia. Cerca de 11% dos inseridos no grupo antes da COVID morreram em 30 dias, em comparação com 21% do grupo após a COVID – um risco relativo de 1,9.
Os investigadores examinaram os fatores que podem ter sido responsáveis pela elevada taxa de mortalidade durante a pandemia, tendo a idade avançada e admissão neste período sido associadas à morte, após ajuste para outros fatores que poderiam influenciar a relação, com taxas de risco de 1,04 e 2,1, respetivamente.
Quando os doentes com teste COVID positivo foram removidos da avaliação, não houve diferença na mortalidade entre os grupos antes e depois da COVID, o que indica que os doentes com insuficiência cardíaca aguda e COVID-19 tiveram um prognóstico pior.
“Isso pode sugerir uma interação direta ou suscetibilidade a resultados piores para pessoas com insuficiência cardíaca aguda com infeção por COVID”, refere Dastidar.
Por isso, o especialista recorda que os testes de rotina para a infeção por COVID-19 não estavam disponíveis no momento do estudo. “Será importante rever as admissões mais recentes, quando o teste para a COVID já estava mais amplamente implementado, para apoiar ainda mais as nossas descobertas”, assim como realizar uma avaliação mais ampla.