Apesar dos mistérios que o novo coronavírus esconde, e de qualquer pessoa, mesmo jovens, poderem precisar de hospitalização ou morrer de COVID-19, sabe-se que as pessoas com idade avançada, doenças crónicas dos pulmões ou coração, diabetes e obesidade correm um risco aumentado, assim como aqueles que têm sistemas imunitários enfraquecidos. Embora alguns fatores de risco não possam ser alterados, há um em específico que pode: fumar.
A Sociedade de Cirurgiões Torácicos dos EUA confirma que, sendo o novo coronavírus um vírus que ataca sobretudo os pulmões, qualquer coisa que os prejudique pode enfraquecer os doentes e resultar em efeitos mais graves em caso de infeção.
Sabe-se que o tabagismo piora o prognóstico de quem tem pneumonia e, referem os especialistas norte-americanos, não é difícil perceber que os cigarros podem representar riscos significativos para as pessoas com COVID-19.
“Os nossos pulmões são continuamente expostos a fungos, bactérias e vírus no ar, mas temos mecanismos para ajudar a defender o nosso corpo contra infeções”, lê-se em comunicado.
“O muco que reveste as nossas vias aéreas fornece uma barreira eficaz para capturar esses agentes infecciosos, e os pequenos pelos nas células que revestem as nossas traqueias, chamados cílios, trabalham para mover esse muco para cima e para fora dos pulmões”, acrescentam.
Mas fumar torna esse muco mais espesso, mais difícil de mover, ou seja, fumar aumenta o risco. “Isso leva a mais partículas e agentes infecciosos presos nos pulmões e a maior dificuldade em limpar esse material. Quem fuma tem uma probabilidade maior de contrair infeções respiratórias e, quando a pessoa tem uma infeção, é mais difícil recuperar. Mesmo um cigarro ocasional ou o fumo passivo tem sido associado a riscos aumentados da síndrome do desconforto respiratório agudo.”
Se fumar aumenta o risco, o melhor é… parar
Os investigadores que estão a estudar a COVID-19 e o tabagismo têm dados limitados até ao momento, mas um relatório inicial, vindo da China, que avaliou 78 pessoas hospitalizadas (39 homens, 39 mulheres) com COVID-19 e avaliou fatores de risco em doentes que pioraram versus aqueles que melhoraram ou estabilizaram, descobriram que o risco de progressão da COVID (exigindo um nível mais alto de atendimento, ventilador e/ou morte) durante a hospitalização é 14 vezes maior entre os que apresentam histórico de tabagismo.
É assim para o tabaco tradicional e também para os cigarros eletrónicos, que ganharam popularidade em muitos países.
Este tipo de tabaco pode suprimir a função imunitária e há estudos que sugerem que isso prejudica a depuração do muco e a capacidade do organismo de combater infeções.
Não existem dados claros a longo prazo sobre o uso de cigarros eletrónicos e a COVID-19, “mas concordamos que a melhor maneira de evitar complicações é manter os pulmões o mais limpos e saudáveis possível”, refere a organização.
Para quem fuma, o melhor mesmo é… deixar de o fazer. Há quem o consiga de um dia para o outro, o que pode ser o método mais simples de cessação, mas muitos são incapazes de permanecer afatados dos cigarros sem algum tipo de apoio ou assistência.
O distanciamento social e a permanência em casa evitam os encontros em cafés e bares, espaços onde as pessoas podem fumar como parte da interação social. E as dificuldades financeiras podem fornecer um incentivo maior para abandonar um hábito que é caro, apesar de o tédio, ansiedade e stress associados aos desafios económicos e de saúde impostos por esta pandemia poderem aumentar os desejos.