Um programa de mindfulness de oito semanas melhora a qualidade de vida e reduz o medo da atividade em pessoas que tiveram um ataque cardíaco, revela um estudo recentemente apresentado no ESC Acute CardioVascular Care 2021, um congresso científico online da Sociedade Europeia de Cardiologia.
“Um ataque cardíaco é um evento grave com risco de vida e os sobreviventes podem sofrer de baixa qualidade de vida”, refere o autor do estudo, Canan Karadas, especialista da Hacettepe University, na Turquia.
“Um dos motivos é o medo do movimento, chamado cinesiofobia, que limita a atividade diária devido a preocupações com outro ataque cardíaco.”
“O mindfulness refere-se ao estado mental alcançado focalizando a consciência no momento presente, incluindo pensamentos, sentimentos e sensações físicas”, explica Karadas.”Tem cada vez mais chamado a atenção no âmbito do tratamento de doenças crónicas, como hipertensão. O nosso estudo examinou o seu efeito na fadiga, cinesiofobia e qualidade de vida após um enfarto agudo do miocárdio.”
O estudo incluiu 56 pessoas que sofreram um ataque cardíaco, com idade média de 55 anos, divididas aleatoriamente por um grupo de minfulness e por outro de controlo, seguidas ao longo de oito semanas.
Os doentes do grupo de controlo participaram numa sessão de educação individual de 15 minutos sobre a estrutura e função do coração, artérias coronárias e doenças cardíacas, enquanto os doentes do grupo de mindfulness participaram numa sessão individual que incluiu uma descrição de 15 minutos da técnica, seguida de 15 minutos de prática supervisionada, em que foram convidados a sentar-se confortavelmente numa cadeira com as costas retas e os olhos fechados.
De seguida, foram instruídos a respirar profundamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca, usando o diafragma e a concentrarem-se na respiração e no momento presente. Receberam, depois, uma gravação das instruções via WhatsApp, tendo-lhes sido pedido que repetissem a sessão de 15 minutos todos os dias em casa, numa sala silenciosa.
Lembretes diários (mensagens de texto ou telefonemas) foram usados para motivar os pacientes a praticar a meditação e para avaliar a sua conformidade com o protocolo do estudo.
Os níveis de fadiga, grau de cinesiofobia e qualidade de vida foram avaliadas no início do estudo e quatro, oito e doze semanas depois. E se, no início do estudo, não se encontraram diferenças nas três variáveis entre os grupos de intervenção e controlo, na quarta semana, os pacientes do grupo de mindfulness apresentaram menos medo do movimento, em comparação com o grupo de controlo, um benefício que foi sustentado nas semanas oito e 12.
Apresentaram ainda melhor qualidade de vida geral, e em todas as restantes áreas, do que aqueles que pertenciam ao grupo de controlo, na avaliação feita na semana oito, enquanto na semana 12 continuaram a relatar melhor função emocional. As medidas de fadiga não variaram entre os dois grupos em nenhum momento.
“O nosso estudo mostra que o mindfulness pode reduzir o medo do movimento e melhorar a qualidade de vida nos sobreviventes de ataques cardíacos, com efeitos que vão além da conclusão da intervenção. Isto talvez porque a meditação substitui o pensamento catastrófico por pensamentos positivos, fazendo com que os pacientes se sintam menos vulneráveis emocional e fisicamente. As descobertas sugerem que o mindfulness pode ser considerado na reabilitação dos doentes após um ataque cardíaco”, conclui o especialista.