O Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) realizou, pela primeira vez, a substituição de uma válvula do coração sem operar, isto numa doente que não era candidata a ser alvo de uma cirurgia devido ao elevado risco operatório.
Foi no fim do mês passado, março, que se realizou a substituição valvular percutânea tricúspide (valve-in-valve), um procedimento que consistiu na colocação de uma prótese valvular biológica, por via minimamente invasiva não cirúrgica, para tratar uma regurgitação valvular tricúspide grave e sintomática.
Realizada pela equipa de cardiologia de intervenção do Serviço de Cardiologia do CHUC, constituída por Marco Costa, Luis Paiva e Manuel Santos, com o apoio do Serviço de Cirurgia Cardíaca do CHUC, a intervenção decorreu com sucesso e vai permitir a esta doente a melhoria das queixas de insuficiência cardíaca, o aumento da sua qualidade de vida e a redução do risco de reinternamento hospitalar.
“A regurgitação desta válvula cardíaca provoca o refluxo de sangue do ventrículo direito para a aurícula direita, tendo impacto na qualidade de vida destes doentes” refere Lino Gonçalves, diretor do Serviço de Cardiologia. “Estes doentes referem dificuldade progressiva para realizar esforços físicos, edemas generalizados no corpo e predispõem a internamentos hospitalares frequentes por descompensação cardíaca.”
De acordo com o especialista, “tradicionalmente, as opções de correção da insuficiência tricúspide estavam limitadas à cirurgia cardíaca. Em alguns casos, os resultados da cirurgia à válvula tricúspide não eram duradouros e uma reoperação representaria um risco cirúrgico muito elevado ou até proibitivo para o doente, pelo que uma opção terapêutica menos invasiva possibilita o tratamento de mais doentes com esta patologia, sobretudo naqueles mais idosos, frágeis e com elevado risco cirúrgico e que frequentemente não tinham acesso a qualquer tratamento valvular para ajudar à sua estabilização clínica”.
Abre-se, refere ainda o especialista, “uma porta para o futuro que vai permitir a outros doentes poder beneficiar deste tipo de intervenção”.