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Estudo inovador alerta para necessidade de melhorar tratamento da insuficiência cardíaca em Portugal

insuficiência cardíaca

Numa altura em que o envelhecimento populacional em Portugal é já uma realidade, João Agostinho, cardiologista no Hospital Santa Maria e Hospital CUF Tejo, em Lisboa, não tem dúvidas que se “perspetiva um grande aumento de doentes com insuficiência cardíaca (IC) em Portugal. Um aumento que vai agudizar a exigência sobre os cuidados de saúde, quer através de um maior número de internamentos (a IC é a principal causa de internamento em doentes com mais de 65 anos), como da necessidade de um número maior de consultas, refletindo-se, também, num aumento da taxa de mortalidade”.

É perante este cenário, ao qual se junta, de acordo com o especialista, o facto de “os cuidados prestados a doentes com IC em Portugal não serem, ainda, os ideais”, que se apresenta o projeto TOGETHER-PT, que juntou mais de 150 profissionais de saúde (enfermagem, cardiologia, medicina interna, medicina geral e familiar), para compreender os desafios atuais e as perspetivas de futuro em relação à gestão destes doentes.

O consenso entre os profissionais que se dedicam diariamente à gestão desta síndrome é o que mais se destaca, sendo urgente “promover educação para a saúde, em particular, sobre IC dado o impacto social e económico que esta síndrome tem em Portugal”.

Foram, também, identificadas lacunas no que diz respeito à organização de cuidados, especialmente “no que toca à necessidade de funcionamento em rede, com tarefas e vias de referenciação definidas, integrando os cuidados de saúde primários, os hospitais regionais e os hospitais centrais” e ainda ao diagnóstico, “na necessidade de disponibilizar exames essenciais ao diagnóstico nos Cuidados de Saúde Primários, onde estes não estão disponíveis de forma comparticipada. Este simples facto possibilitaria um diagnóstico bastante mais atempado e iria otimizar a referenciação de doentes a consultas hospitalares especializadas”, refere João Agostinho.

O médico salienta ainda que apesar de o diagnóstico de IC estar “cada vez mais refinado, sobretudo pela disponibilidade de meios complementares de diagnóstico mais fidedignos, o progressivo envelhecimento da população, a falta de conhecimento da população e de alguns profissionais de saúde sobre insuficiência cardíaca e a ausência de disponibilidade de alguns meios complementares de diagnóstico, predominantemente nos Cuidados de Saúde Primários, contribuem, não só para um crescente número de doentes, mas também, para o consequente subdiagnóstico”. Existe, acrescenta, “margem para melhoria em todo o espetro de tratamento da IC”.

Consenso sobre insuficiência cardíaca

Recorde-se que a insuficiência cardíaca “é uma síndrome em que, devido a uma alteração estrutural ou funcional, o coração não consegue bombear o sangue como deveria.2  Os órgãos acabam por receber menos sangue e os líquidos tendem a acumular-se nos pulmões, pernas e abdómen e, consequentemente, os doentes com IC sentem-se fracos, cansados ou com dificuldade para respirar. As atividades diárias simples como caminhar, subir escadas ou carregar sacos de compras tornam-se bastante difíceis”, explica o médico.

A iniciativa inovadora reuniu, pela primeira vez, especialistas do Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, o Núcleo de Estudos de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e o Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e, explica João Agostinho, “compilou os principais pontos para melhoria e as dificuldades que um grupo de experts enfrentam na gestão de doentes com insuficiência cardíaca”.

A aposta foi ainda no sentido de “validar a importância destas questões junto de um grupo de peritos em IC de todo o País e que incluiu enfermeiros, médicos de Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna e Cardiologia”, espelhando “a opinião generalizada dos profissionais especializados que estão todos os dias no terreno a cuidar dos doentes com IC. Assim, as conclusões apresentadas revestem-se de maior validade – sobretudo pelo número e abrangência dos participantes – para que sejam utilizadas como ponto de partida para a melhoria necessária na gestão da IC em Portugal”.

Imagem: Monstera Production, Pexels

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