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As mulheres têm menos probabilidade do que os homens de receber um transplante de pulmão

transplante de pulmão nas mulheres

As mulheres têm menos probabilidade de receber um transplante de pulmão e passam em média mais seis semanas na lista de espera, revela um estudo publicado na ERJ Open Research. No entanto, as mulheres que recebem um transplante pulmonar têm maior probabilidade do que os homens de viver cinco anos após o transplante. Com base nas suas conclusões, os investigadores incentivam mudanças na regulamentação e nas orientações clínicas para abordar esta desigualdade.

O transplante de pulmão é o único tratamento para pessoas com insuficiência respiratória em fase terminal – pode restaurar a função pulmonar normal, proporcionando aos doentes uma melhor esperança de vida e uma maior qualidade de vida – e os doentes em lista de espera apresentam um elevado risco de morte.

O investigador principal do estudo, Adrien Tissot, do Hospital Universitário de Nantes, em França, considera “importante compreender que as pessoas na lista de espera para um transplante têm uma qualidade de vida muito baixa, por vezes não estão suficientemente bem para sair de sua casa e correm um elevado risco de morte. Para estas doentes, esperar é sofrimento, e quanto mais longa for a espera, pior será o sofrimento destas mulheres”.

O estudo incluiu 1.710 participantes (802 mulheres e 908 homens) que estavam a ser cuidados num dos 12 centros de transplantação em França entre 2009 e 2018. Os doentes foram seguidos durante cerca de seis anos após o transplante, sendo as principais doenças subjacentes que os afetavam a doença pulmonar obstrutiva crónica, a fibrose quística e a doença pulmonar intersticial.

Este estudo é o primeiro a analisar todos os três períodos do percurso do transplante no mesmo grupo de doentes: o período em lista de espera antes do transplante; a cirurgia de transplante e o imediatamente após; e os meses e anos que se seguem ao transplante de pulmão.

A investigação de Tissot descobriu que, em média, as mulheres esperam 115 dias por um transplante de pulmão, contra 73 dias para os homens. As mulheres também tinham menos probabilidade de receber um transplante de pulmão (91,6% vs. 95,6%) e, segundo estudos anteriores, apresentavam ainda maior probabilidade de morrer na lista de espera.

Após o transplante, a sobrevivência foi maior para as mulheres do que para os homens, com 70% das recetoras ainda vivas cinco anos após o transplante, em comparação com 61% dos recetores homens.

Os investigadores descobriram também que a maioria das mulheres recebeu um pulmão de dador que era compatível em termos de sexo e altura, algo importante porque há um maior número de dadores do sexo masculino (56% dos dadores) e os homens são 13 cm mais altos do que as mulheres, em média, o que significa que as mulheres podem ter de esperar mais receber um transplante de pulmão de uma pessoa com altura equivalente.

As mulheres que receberam um pulmão “sobredimensionado” geralmente não tiveram uma pior sobrevivência após o transplante, sugerindo que pode ser possível permitir que mais mulheres recebam transplantes de dadores do sexo masculino. Isto poderá resolver algumas das desigualdades de género na lista de espera.

“Os clínicos, os doentes e os decisores políticos devem reconhecer esta diferença de género, pois é essencial para que sejam tomadas medidas apropriadas. Pode ser considerada a listagem antecipada de mulheres ou a revisão da política de alocação de pulmões de dadores para recetores”, refere o especialista.

Desigualdade de género no transplante de pulmão

Michael Perch, presidente do Grupo de Transplantação Pulmonar da Sociedade Respiratória Europeia, não tem dúvidas que “compreender as disparidades de género no transplante é um primeiro passo crucial para melhorar os cuidados prestados aos doentes e reduzir o tempo que passam na lista de espera. Pode haver várias razões pelas quais as mulheres esperam em média mais seis semanas do que os homens, incluindo diferenças na educação e conhecimento sobre saúde, diferenças socioeconómicas, fatores imunológicos e correspondência entre o tamanho do dador e o recetor”.

“Os clínicos e os decisores políticos devem questionar por que razão existe um enfoque na correspondência de género e tamanho no transplante quando as evidências mostram que, nos pulmões, estes fatores não determinam as hipóteses de sobrevivência de uma mulher e, em última análise, correm o risco de aumentar o número de mulheres que morrem enquanto esperam por um transplante de pulmão. É inaceitável que as mulheres esperem mais tempo do que os homens por estas doações que salvam vidas, pelo que devem ser introduzidas medidas corretivas eficazes.”

 

Crédito imagem: Pexels

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