Os jovens que sofreram bullying, divórcio, violência ou abuso têm uma probabilidade significativamente maior de sentir ansiedade na cadeira do dentista. Estas experiências podem fazer com que algumas pessoas evitem ter estas consultas, enquanto outras sentem uma vontade intensa de fugir quando lá chegam, revela uma nova investigação da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU).
A investigação da NTNU mostra que o medo do dentista ocorre com maior frequência em pessoas que foram expostas a experiências stressantes na infância. Por outras palavras, as experiências dolorosas na vida podem afetar a forma como se sente na cadeira deste especialista.
O estudo, com respostas de mais de 5.800 adolescentes dos 13 aos 17 anos, mostra que os adolescentes que vivenciaram experiências stressantes na infância, como violência, divórcio, abuso ou bullying, têm uma probabilidade significativamente maior de ter medo do dentista do que os adolescentes que não passaram por essas experiências.
Quanto mais experiências stressantes os jovens tiveram, maior a probabilidade de desenvolverem medo do dentista, uma associação que, segundo o estudo, é mais forte nas raparigas do que nos rapazes.
“Para muitas pessoas que experienciaram muita insegurança na infância, o tratamento dentário pode ser desafiante. Os pacientes deitam-se de costas numa posição vulnerável enquanto uma figura de autoridade trabalha dentro da boca. Não é de admirar que o tratamento dentário possa ser difícil”, afirma Lena Myran, especialista em psicologia. “Tenho pacientes que não vão ao dentista há 40 anos”, refere Myran.
A importância de falar
Os investigadores analisaram diferentes tipos de stressores, mas as experiências dolorosas na clínica dentária não foram incluídas neste material. “É também importante notar que este é um estudo transversal que não fornece uma base para dizer o que é causa ou efeito. Só podemos verificar se existe uma ligação”, refere Myran.
E, sim, o estudo encontrou uma ligação clara entre o medo do dentista e vários tipos de experiências dolorosas na infância, incluindo o bullying. “O bullying significa ser sistematicamente rejeitado e ridicularizado. Se já sofreu de bullying, pode ter uma hipersensibilidade às intenções de outras pessoas. Pode haver períodos durante o tratamento dentário em que este é silencioso e não se sabe exatamente o que o dentista está a pensar. Isto pode ser semelhante a situações em que estes indivíduos se sentiram inseguros. Para as pessoas que sofreram bullying, dizer o que pensam e sentem pode ter parecido perigoso”, afirma Myran, que admite surpresa ao verificar que a correlação entre as experiências dolorosas na infância e o medo do dentista era mais forte nas raparigas do que nos rapazes.
“Sabemos que o medo do dentista é mais comum entre as raparigas e que mais raparigas do que rapazes sofreram abusos sexuais. Também há mais raparigas do que rapazes que desenvolvem ansiedade e depressão na adolescência, mas o facto de termos encontrado uma diferença tão clara no nosso material não deixou de ser surpreendente.”
E acredita que as descobertas devem ter consequências na forma como o serviço de saúde dentária trata os jovens. “Quando os profissionais de medicina dentária atendem pacientes assustados, podem perguntar sobre a causa. Os pacientes geralmente acham seguro que o dentista pergunte; sabem que o dentista não é psicólogo, por isso não tem de ser uma conversa longa. Mas, ao ter em conta as experiências e os medos do paciente, os profissionais de medicina dentária podem contribuir para uma melhor saúde oral e experiências mais seguras”, acrescenta.
“É importante falar com o seu dentista ou higienista dentário sobre como se sente. Basta dizer ao seu dentista que tem medo pode ajudar muito. Mesmo uma frase curta sobre os seus medos levará muitos dentistas a serem mais sensíveis. O dentista é um bom amigo que deve ajudar, e não precisa de pedir de nenhuma forma específica, basta dizer que tem medo”, reforça Myran.















