Imagine um prato. Agora imagine que a maior parte desse prato se encontra coberta por vegetais. A fruta tem também lugar de destaque, assim como os cereais. A carne vermelha, essa não deve ultrapassar os 14 gramas diários, com o açúcar a reduzir para metade.
Este é o cenário da alimentação ideal em 2050, com o consumo da carne vermelha e do açúcar a cair para metade e o de frutos secos, fruta, verdura e legumes a aumentar para o dobro.
Um cenário que, de acordo com vários especialistas internacionais, será a única forma de alimentar a população crescente de 10 mil milhões de pessoas até 2050, de uma forma saudável e sustentável.
Evitar 11 milhões de mortes prematuras anuais
Um regime alimentar pouco saudável é a principal causa de doenças em todo o mundo. Mudar estes hábitos podia, por si só, evitar aproximadamente 11 milhões de mortes prematuras por ano.
Uma mudança em direção à alimentação saudável a uma escla planetária que garantiria ainda a sustentabilidade do sistema alimentar global, urgentemente necessária, segundo os especialistas, uma vez que mais de três mil milhões de pessoas estão desnutridas, com a produção de alimentos a ultrapassar os limites do planeta e a impulsionar as alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição.
Foi para isso que a Comissão EAT-Lancet decidiu fornecer os primeiros alvos científicos para uma dieta saudável a partir de um sistema sustentável de produção, que opera dentro dos limites planetários.
Um relatório que promove dietas que consistem numa variedade de alimentos à base de plantas, com baixas quantidades de alimentos de origem animal, grãos refinados, alimentos altamente processados e açúcares adicionados e com gorduras insaturadas em vez de saturadas.
É preciso mudar a produção de alimentos
A alimentação está intrinsecamente associada à saúde e a sustentabilidade ambiental, mas as dietas atuais estão a empurrar a Terra para além dos seus limites, tornando o fornecimento de dietas saudáveis a partir de sistemas alimentares sustentáveis um desafio imediato, já que a população continua a crescer e consumir cada vez mais alimentos de origem animal.
Para enfrentar este desafio, as mudanças na dieta devem combinar-se com uma melhor produção de alimentos e redução do seu desperdício.
“Os alimentos que comemos e como os produzimos determinam a saúde das pessoas e do planeta, e atualmente estamos a errar seriamente”, garante um dos autores da comissão, Tim Lang, professor da Universidade de Londres, no Reino Unido.
“Precisamos de uma revisão significativa, de mudar o sistema global de alimentos numa escala nunca vista antes, de acordo com as circunstâncias de cada país. Embora este seja um território político não mapeado e estes problemas não sejam facilmente resolvidos, essa meta está ao nosso alcance.”
Menos carne vermelha, mais vegetais
Constituída por 37 especialistas de 16 países com experiência em saúde, nutrição, sustentabilidade ambiental, sistemas alimentares, economia e governação política, a Comissão tem como alvos científicos uma dieta saudável.
Dieta essa que, de acordo com as novas recomendações, exige que, até 2050, o consumo global de alimentos como carne vermelha e açúcar diminua em mais de 50%, enquanto o consumo de frutos secos, frutas, verduras e legumes aumente para o dobro.
Os alvos globais devem ser aplicados localmente. Por exemplo, os países da América do Norte comem quase 6,5 vezes a quantidade recomendada de carne vermelha, enquanto os países do sul da Ásia comem apenas metade do valor recomendado.
Todos os países estão a comer mais vegetais ricos em amido (batatas e mandioca) do que o recomendado, com consumos que variam entre 1,5 vezes acima da recomendação no sul da Ásia e 7,5 vezes na África Subsariana.
“As dietas do mundo devem mudar drasticamente. Mais de 800 milhões de pessoas têm comida insuficiente, enquanto muitas mais consomem uma dieta pouco saudável, que contribui para a morte prematura e doenças”, afirma Walter Willett, da Universidade de Harvard.
“Para ser saudável, as dietas devem ter uma ingestão calórica apropriada e consistem numa variedade de alimentos à base de plantas, baixas quantidades de alimentos de origem animal, gorduras insaturadas e não saturadas, e poucos grãos refinados, alimentos altamente processados e açúcares adicionados.”