Um novo artigo, publicado na revista Rheumatology Advances in Practice, indica que os vídeos do TikTok sobre a gota são frequentemente enganadores, inconsistentes ou imprecisos.
A gota é uma artrite inflamatória dolorosa causada pelo excesso de ácido úrico no sangue, que cristaliza e se deposita nas articulações. Estima-se que 41 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de gota, com os médicos a diagnosticarem cerca de sete milhões de novos casos por ano.
Existem lacunas persistentes na sensibilização e compreensão sobre a gota entre os doentes e o público em geral e, apesar de existirem diretrizes para um controlo eficaz da gota, a doença continua a ser mal controlada entre os doentes.
O papel das redes sociais na informação sobre saúde
Cerca de 98% das pessoas com 12 anos ou mais utilizam as redes sociais, e aquelas com problemas de saúde (52%) são mais propensas a partilhar informações sobre saúde nestas plataformas.
O TikTok, com 1,2 mil milhões de utilizadores, é particularmente influente na formação de crenças, perceções e comportamentos do público. Um inquérito recente a 1.172 mulheres entre os 18 e os 29 anos revelou que cerca de 70% procuraram intencionalmente informações sobre saúde no TikTok, enquanto 92% encontraram o conteúdo por acaso.
Para perceber o que se passa quando se trata da gota, os investigadores pesquisaram o termo na página “Descobrir” do TikTok e recolheram os primeiros 200 vídeos encontrados a 5 de dezembro de 2024. Uma investigação que revelou que as pessoas com este problema ou familiares próximos eram os apresentadores de vídeos mais frequentes (27%), seguidos pelos profissionais de saúde (24%) e pelos membros do público em geral (23%). O principal objetivo dos vídeos era fornecer dicas de saúde (38%), partilhar histórias pessoais sobre a gota (20%) e vender produtos (19%).
Aproximadamente 45% dos vídeos mencionavam fatores de risco para a gota, sendo a dieta e o estilo de vida os mais comuns (90%). Cerca de 79% dos vídeos do TikTok abordavam o controlo da gota no seu conteúdo, com foco em dicas alimentares.
Alguns vídeos mencionavam alimentos a evitar, como um, protagonizado por um paciente hospitalizado por gota, que informava sobre como era possível “reduzir a incidência de gota diminuindo o consumo de sal, álcool e carne vermelha”. Os suplementos, os remédios caseiros ou à base de plantas também foram frequentemente referidos como formas de controlo da gota, com vídeos a promoverem produtos como “comprimidos feitos de ervas puras, sem hormonas e sem efeitos secundários”.
Apenas sete dos vídeos do TikTok discutiram os medicamentos como abordagem para o controlo da gota, recomendando principalmente opções para o alívio da dor, como os esteroides e os anti-inflamatórios não esteroides. Os investigadores descobriram que apenas dois vídeos do TikTok mencionavam a terapia de redução do ácido úrico a longo prazo para o controlo eficaz da doença, embora este seja o tratamento padrão, clinicamente comprovado e recomendado pelos reumatologistas.
Preocupações com informações incorretas e recomendações
Em geral, os investigadores descobriram que os vídeos do TikTok analisados carecem de informações precisas sobre a produção de ácido úrico e os fatores de risco relacionados com a gota, o que pode levar a conceções erradas sobre a doença. As discussões sobre os fatores de risco nos vídeos também a retratavam frequentemente como uma doença resultante sobretudo de fatores alimentares que influenciam os níveis de ácido úrico.
Embora a dieta e o álcool sejam fatores de risco para a doença, a genética, a insuficiência renal e o peso desempenham um papel significativamente maior. O conteúdo focado exclusivamente nos fatores de risco relacionados com o estilo de vida e a dieta retratava a gota como uma escolha pessoal, em vez de ser causada por fatores subjacentes.
Os investigadores realçam que os vídeos relacionados com o tratamento da gota, neste estudo, divulgavam principalmente conselhos e tratamentos não alinhados com as abordagens clinicamente recomendadas e baseadas em evidências. Setenta e nove por cento dos vídeos deste estudo mencionavam o tratamento da doença, mas os conselhos dietéticos eram os mais comuns (53%), apesar de terem eficácia limitada a longo prazo.
Os medicamentos à base de plantas e os suplementos também foram estratégias de tratamento da gota amplamente apresentadas, com vídeos a vender produtos e a utilizar imagens de profissionais de saúde no seu conteúdo.
“O TikTok tem um grande potencial como ferramenta para aumentar a sensibilização para questões de saúde como a gota e promover informação alinhada com as diretrizes clínicas”, afirma a autora principal do artigo, Samuela Ofanoa.
“Num mundo cada vez mais digital, há necessidade de que mais profissionais e organizações de saúde aproveitem a oportunidade que as plataformas de redes sociais oferecem e criem conteúdos que possam combater a desinformação e melhorar a compreensão sobre a gota nas nossas comunidades.”
Crédito imagem: Pexels















