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Pode o uso de ‘apps’, os jogos e os quebra-cabeças melhorar a saúde do cérebro?

saúde do cérebro

Não há nada como a satisfação de chegar ao fim de umas palavras cruzadas ou concluir um sudoku. Mas parece que este tipo de passatempos, aos quais se juntam jogos e apps de treino cerebral, vão mais além, ao fazerem bem à saúde do cérebro. É pelo menos essa a opinião da neuropsicóloga clínica Nicole Kochan, especialista da UNSW Medicine & Health.

“Grupos de pessoas que se envolvem em atividades estimulantes mentais complexas, como palavras cruzadas e sudoku, aprender uma língua, aprender um novo hobby ou mesmo aprender a usar uma nova tecnologia têm um risco menor de demência”, explica a médica, investigadora sénior do Grupo de Neuropsicologia no Center for Healthy Brain Aging.

“Por exemplo, um estudo onde adultos mais velhos que tiveram treino para usarem várias ‘apps’ mostrou que estes tiveram um desempenho melhor em testes de memória do que os grupos de controlo que não tiveram este treino”, afirma.

Uma investigação levada a cabo por especialistas do Sydney Memory and Aging Study, mostrou que os indivíduos com níveis mais elevados de atividade mental complexa tinham menos probabilidade de ter comprometimento cognitivo ligeiro, um fator de risco para demência futura.

“Acredita-se que os benefícios para o cérebro sejam devido ao facto de essas atividades cognitivas estimulantes criarem uma ‘reserva cognitiva’ ao longo da vida, que pode ajudar a suportar as mudanças cerebrais associadas ao processo de envelhecimento. Ele também protege as alterações cerebrais patológicas associadas a distúrbios neurocognitivos relacionadas com a idade, como a doença de Alzheimer, e potencialmente reduz ou atrasa o declínio cognitivo.”

Mais jogos, menos declínio cerebral

Os especialistas encontraram uma associação entre jogar xadrez e outros jogos de tabuleiro e uma redução no declínio cognitivo associado à idade. Num estudo francês, que durou 20 anos e contou com 3600 participantes com 65 ou mais anos, o jogo regular de tabuleiro foi associado a um declínio cognitivo reduzido, depressão reduzida e uma redução de 15% no desenvolvimento de demência.

“O xadrez é um jogo complexo e exige que os jogadores usem estratégia e cálculos complexos que estimulam áreas específicas do cérebro, incluindo aquelas associadas à doença de Alzheimer.”

O treino cognitivo computadorizado é outra forma popular de treino cerebral e inclui plataformas como Lumosity, Elevate, Peak e Nintendo Brain Age. Kochan confirma que estas parecem melhorar o desempenho cognitivo não só nos adultos mais velhos saudáveis, mas também naqueles com comprometimento cognitivo ligeiro, doença de Parkinson e demência.

“Os jogos tiveram um efeito moderado na velocidade de processamento das pessoas e efeitos menores, mas significativos, na memória e nas habilidades executivas de alto nível, como raciocínio e memória de trabalho – o tipo de função cognitiva que usamos quando fazemos aritmética mental. Os resultados são interessantes na medida em que a velocidade com que processamos as informações é uma das funções que mais diminui com a idade, sendo esta a área que apresentou a melhor resposta com o desempenho dessas tarefas. O envolvimento potencial nesses jogos pode desacelerar esse processo de envelhecimento cognitivo.”

A importância de socializar para a saúde do cérebro

A pandemia forçou muitos ao isolamento, o que levou a novas formas de socialização, incluindo a realização de quebra-cabeças semanais e palavras cruzadas através de videoconferência com amigos e familiares.

Sentir-se isolado pode levar à depressão, que tem sido associada a um maior declínio cognitivo, pelo que a adaptação a novas formas de fazer as coisas e aprender novas tecnologias, como Zoom ou FaceTime para socializar durante a pandemia, tem benefícios para a saúde do cérebro.

“Aprender coisas novas, incluindo aprender a usar novas tecnologias, é benéfico para a saúde do cérebro. Acredita-se que o envolvimento em atividades mentais ou físicas que envolvam interações sociais exerça um efeito protetor adicional contra o desenvolvimento da demência”, refere Kochan.

“A solidão e o baixo envolvimento social são prejudiciais ao humor e aumentam o risco de demência futura. Durante a pandemia e o confinamento, muitas pessoas estão socialmente isoladas, então esta é uma ótima forma de se envolver com outras pessoas para diversão, estímulo mental e saúde cerebral.”

Mesmo na casa dos 80 anos continuamos a produzir novas células cerebrais, sobretudo em partes do cérebro responsáveis ​​pela memória e aprendizagem. Como a atividade mental complexa é essencial para a saúde do cérebro, a investigação sugere uma vida inteira de atividades mentais complexas variadas, como educação, viagens ou aprender um novo idioma.

Segundo Kochan, a atividade mental complexa deve envolver uma nova aprendizagem, ser mentalmente desafiador, ser variado e envolver diferentes processos cognitivos, como memória, atenção, raciocínio, velocidade de processamento e habilidades espaciais.

“Deve envolver tantas funções diferentes como possível. O mais importante é que seja agradável para que continue a fazê-lo. O aspeto social também é altamente benéfico para a dimensão adicional de estímulo e envolvimento, além de ser mais prazeroso.”

A especialista recomenda, por isso, atividades como aprender novos jogos, uma nova língua, ter aulas de dança, novos hobbies, como costura, fazer voluntariado, etc. E sugere também que as pessoas se desafie a melhorar em áreas que são mais fracas, como aritmética mental, quebra-cabeças, palavras cruzadas, sudoku.

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