
Apesar dos progressos significativos na luta contra o cancro, o cancro colorretal mantém-se como um dos desafios de saúde pública mais prementes a nível mundial, sendo o cancro mais prevalente em Portugal, com cerca de 10.000 novos casos por ano, muitos dos quais na população jovem, cujos números têm vindo a aumentar, estimando-se que até 15% de novos diagnósticos sejam feitos na população com menos de 55 anos em 2030. A realidade é preocupante: 20% de todos os doentes apresentam cancro colorretal metastático no momento do diagnóstico.
É urgente alterar esta realidade pois, tal como refere Vítor Neves, presidente da EuropaColon Portugal – Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo, “Portugal necessita de consolidar o programa nacional de rastreio de base populacional, pois este é o único caminho comprovadamente eficaz para reduzir a mortalidade”. Como alerta, “este tipo de cancro, quando detetado precocemente, tem uma taxa de sobrevivência a 5 anos que pode ultrapassar os 90%. No entanto, em fases avançadas (com metástases) essa taxa desce para menos de 15%”.
O cancro colorretal é uma “doença silenciosa nas fases iniciais – frequentemente não há sintomas até a doença estar avançada”, alerta o especialista, o que justifica o doiagnóstico tardio de tantos casos de cancro colorretal. Situação que torna urgente que seja “consolidado o programa nacional de rastreio de base populacional com condições estruturais, com convites sistemáticos, equidade territorial, monitorização contínua e qualidade assegurada, tal como já determinado na Estratégia Nacional de Luta contra o Cancro, horizonte 2030. O que existe está suborganizado, a cobertura não é plena e a taxa de participação está aquém do desejável, limitado quase à atitude individual do médico de família, sendo, portanto, um rastreio oportunístico”.
A esta situação associa-se ainda uma baixa literacia em saúde – “muitos cidadãos não reconhecem sinais de alerta, como sangue nas fezes ou alterações persistentes do trânsito intestinal, alteração dos hábitos intestinais, emagrecimento e cansaço persistentes sem razão aparente e os cancros de origem hereditária”, esclarece. E acrescenta ainda “as desigualdades no acesso aos cuidados primários, com tempos de espera, falta de médicos de família e barreiras regionais, assim como falta de esclarecimento aos utentes, o que dificulta a referenciação precoce”.
A tudo isto juntam-se os “fatores culturais e emocionais: medo, estigma ou vergonha em falar de sintomas digestivos, o que adia a procura de ajuda”.
Números do cancro colorretal causam preocupação
De acordo com os dados disponíveis, o cancro colorretal ocupa uma posição alarmante nas estatísticas globais, constituindo o terceiro cancro mais frequentemente diagnosticado mundialmente e a segunda principal causa de morte por cancro, predominantemente devido à doença metastática.
Em Portugal, representa mais de 4.000 mortes por ano, 11 mortes por dia e, por isso, acrescenta, “é fundamental continuar a promover ações de sensibilização junto ao público e aos médicos de família, porque os rastreios são uma das formas mais eficazes de deteção precoce da doença, contribuindo para ganhos não só na própria pessoa mas também nos sistemas de saúde”.
O que torna necessária e urgente a busca por inovação. “A investigação é essencial em vários domínios: novos métodos de rastreio não invasivos que aumentem a adesão populacional; estratificação de risco e biomarcadores que permitam uma abordagem personalizada; novas terapias dirigidas e imunoterapia para aumentar as opções de tratamento; estudos de qualidade de vida e intervenções para reduzir o impacto físico, psicológico e social da doença”, afirma Vítor Neves.
E por isso recorda a importância de “assinalar datas como o Dia Nacional do Cancro Digestivo, que muito contribuem para a consciencialização e divulgação de informação junto público e decisores, fundamental para apoio à gestão do doente oncológico”.