
O cancro é uma doença complexa e multifatorial, com um fardo global substancial. Nos últimos anos, tendo em conta o reconhecimento do papel da nutrição na incidência e prevenção do cancro, temos assistido a um aumento da investigação centrada em medidas preventivas, particularmente através da dieta e dos suplementos. No entanto, as especificidades destas relações continuam por esclarecer, algo que um novo estudo, realizado por Anandu Chandra Khanashyam e os seus colegas, da Universidade de Minnesota, nos EUA, procura agora esclarecer.
A importância da dieta e dos suplementos na prevenção do cancro está bem documentada, sendo a nutrição um fator chave na incidência da doença. A investigação epidemiológica tem destacado as interações complexas entre fatores dietéticos e o risco da doença, mas persistem inconsistências, o que limita as conclusões.
Fatores como a obesidade, que está associada a 14% das mortes por cancro nos homens e 20% nas mulheres, alimentos com alto teor calórico, bebidas açucaradas e carnes processadas são conhecidos por aumentar o risco, enquanto as dietas ricas em cereais integrais, vegetais e frutas reduzem este risco. Depois, há ainda fatores dietéticos específicos, como o álcool ou as carnes vermelhas, associados a vários tipos de cancro.
Evidências que associam dieta e cancro
Pesquisas históricas e contemporâneas sublinham o papel da dieta no desenvolvimento do cancro. O médico Galeno, em 168 a.C., sugeriu pela primeira vez o envolvimento da dieta no crescimento cancerígeno e os estudos epidemiológicos modernos têm mostrado consistentemente as relações entre alimentos específicos e o risco desta doença, confirmando que fatores como a quantidade, o momento e a duração da exposição aos componentes bioativos dos alimentos influenciam as respostas celulares e o desenvolvimento da doença.
Entende-se agora que os efeitos se devem provavelmente a múltiplas vias cancerígenas que atuam em conjunto, e não a compostos individuais.
Padrões alimentares e risco de cancro
Passar de uma abordagem centrada nos nutrientes para examinar os padrões alimentares globais oferece uma compreensão mais abrangente do impacto da dieta no risco de cancro.
Padrões alimentares saudáveis, caracterizados por uma elevada ingestão de frutas, vegetais e cereais integrais, estão associados a um menor risco de cancro, sobretudo do cólon e da mama.
As carnes processadas e vermelhas, que contêm compostos cancerígenos formados durante a cozedura a alta temperatura, estão associadas ao cancro gastrointestinal. No entanto, as evidências são complexas e, por vezes, contraditórias.
Suplementos alimentares na prevenção do cancro
Embora certos micronutrientes e antioxidantes, como as vitaminas B12, D, C, selénio, ácido fólico e carotenoides, tenham demonstrado potencial na prevenção do cancro, a sua utilização indiscriminada pode ser prejudicial.
Os indivíduos bem nutridos podem não beneficiar de suplementos adicionais e a ingestão excessiva pode aumentar o risco de cancro.
Já os fitoquímicos e os extratos de plantas, como os polifenóis encontrados em frutas, vegetais e bebidas, são promissores devido às suas propriedades anticancerígenas. Estes compostos podem alterar os processos moleculares de metástase e suprimir o início da carcinogénese.
Os polifenóis, um grupo diversificado de constituintes vegetais, desempenham um papel significativo na prevenção do cancro, estando categorizados em flavonoides, ácidos fenólicos, lignanas, estilbenos e outros polifenóis, sendo a maioria encontrada em frutas, vegetais e nozes, compostos que exibem efeitos protetores contra vários tipos de cancro.
Os probióticos, outro grupo de alimentos funcionais, modificam a microbiota intestinal, neutralizam os carcinógenos e melhoram a função da barreira intestinal, reduzindo assim o crescimento tumoral e as metástases.
A resposta pode estar nos hábitos alimentares
O estilo de vida e os hábitos alimentares influenciam significativamente o risco oncológico. O que significa que adotar uma dieta equilibrada rica em frutas, vegetais, cereais integrais e leguminosas pode reduzir o risco desta doença.
Os antioxidantes destes alimentos ajudam a reparar as células e a reduzir a inflamação, neutralizando os mecanismos das células cancerígenas.
Embora a investigação epidemiológica e clínica tenha avançado a nossa compreensão sobre a dieta e a prevenção do cancro, são necessários mais estudos para esclarecer estas relações. Aconselha-se cautela face ao uso excessivo de suplementos, e as modificações na dieta devem fazer parte de uma abordagem holística para a prevenção oncológica.
Não existem evidências conclusivas a favor de uma dieta específica, mas os padrões alimentares saudáveis em geral têm um impacto positivo na prevenção da doença.
Ou seja, a dieta e os suplementos alimentares são promissores na prevenção do cancro, mas o seu papel deve ser entendido no contexto mais amplo do estilo de vida global e dos padrões alimentares. A investigação contínua é essencial para estabelecer estratégias dietéticas eficazes para prevenir este problema.