É um problema que as mulheres bem conhecem. De resto, mais de 60% vão ter pelo menos uma infeção urinária ao longo da sua vida, e cerca de um quarto terão uma segunda no prazo de seis meses, por razões que os especialistas em saúde ainda têm tido dificuldade em justificar. O que motiva, afinal, as infeções urinárias recorrentes?
Agora, investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos EUA, descobriram que uma infeção inicial pode dar o tom para as infeções seguintes.
Em estudos feitos com ratinhos de laboratório, os especialistas verificaram que uma infeção transitória desencadeia uma resposta inflamatória de curta duração, que elimina rapidamente as bactérias. Mas se a infeção inicial persistir durante semanas, a inflamação também persiste, levando a mudanças duradouras na bexiga, que estimulam o sistema imunitário a reagir de forma exagerada da próxima vez em que as bactérias se infiltrarem no trato urinário, piorando a infeção.
Publicado recentemente, este trabalho sugere que a reversão de tais mudanças na bexiga pode ajudar a prevenir ou mitigar futuras infeções urinárias.
Reduzir a gravidade das infeções urinárias
“Milhões de mulheres sofrem de infeções recorrentes da bexiga, e isso pode realmente prejudicar a sua qualidade de vida”, refere o coautor sénior do trabalho, Thomas J. Hannan, especialista em imunologia.
“No processo de combate destas infeções, o sistema imunitário causa às vezes mais danos à bexiga do que as bactérias. Se pudéssemos ajustar a resposta imunitária para manter o corpo focado na eliminação de bactérias, poderíamos reduzir a gravidade dessas infeções.”
Em busca de novos medicamentos
Para entender porque é que algumas pessoas têm maior propensão do que outras a infeções graves e recorrentes, Hannan e o colega Scott J. Hultgren, professor de Microbiologia Molecular, infetou uma linhagem de ratinhos geneticamente idênticos com E. coli, a causa mais comum de infeções urinárias nos seres humanos.
Alguns eliminam as bactérias em poucos dias; outros desenvolvem infeções crónicas que duraram semanas e o responsável era uma molécula imunitária, chamada TNF-alfa, que coordena uma poderosa resposta inflamatória à infeção.
“Depois de uma infeção crónica, mesmo que as bactérias tenham sido eliminadas com antibióticos e o revestimento da bexiga tenha cicatrizado, o comportamento das células que reveste a bexiga não volta ao normal mesmo depois de a inflamação ter sido finalmente resolvida”, referiu Hannan.
Como resolver esta questão? Para descobrir, fizeram novos testes, que “melhoraram a compreensão deste processo biológico subjacente, essencial para o desenvolvimento de novas terapêuticas que visam a inflamação como uma estratégia alternativa contra o rápido aumento da resistência antimicrobiana”.