
Nos períodos mais quentes, como no verão, as infeções urinárias nas mulheres parecem ser mais frequentes, sobretudo devido à desidratação (suor e respiração), alerta Catarina Peixinho, especialista do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Pedro Hispano. Algo que acontece quando esta desidratação “não é compensada devidamente pela maior ingestão de líquidos, o que gera menor produção de urina, e mais concentrada”.
A ginecologista chama ainda a atenção para o aumento da humidade na região íntima durante o verão (transpiração, uso de biquínis, etc.), que fomenta uma maior proliferação de microrganismos.
Por isso recomenda que as mulheres tenham “um cuidado redobrado com a hidratação (através da ingestão de dois litros de água/dia), bons hábitos de higiene durante as micções, bem como micções mais frequentes, além de um trânsito gastrointestinal regularizado e a preferência pela utilização de roupa íntima de algodão como forma de prevenir as infeções urinárias”.
De acordo com Catarina Peixinho, esta é uma das infeções bacterianas mais incidentes no adulto, com elevados custos para a sociedade. “Considera-se infeção urinária quando há presença de bactérias que promovem doença em qualquer parte do sistema urinário (rins, ureteres, bexiga), com exceção da uretra, que poderá ser colonizada com flora normal, como os lactobacilos e as neisserias não patogénicas”.
A especialista salienta que os microrganismos podem chegar ao aparelho urinário por via hematogénea ou linfática, mas a via habitual é a ascendente, com origem no reservatório intestinal.
Fatores de risco das infeções urinárias
A prevalência é maior entre as mulheres, sobretudo “devido a fatores fisiológicos, como a maior proximidade da uretra feminina ao ânus e o facto de ser uma uretra muito mais curta do que a masculina”, explica a médica, que acrescenta que, “em mulheres jovens, os maiores fatores de risco para cistite são atividade sexual recente ou frequente, uso frequente de espermicida nonoxinol-9 (presente em alguns preservativos) e antecedente de infeção urinária”.
Mas existem ainda outros fatores que aumentam este risco: as alterações na flora vaginal devido à gravidez ou menopausa, uso de antibióticos, alterações no esvaziamento vesical e problemas estruturais no trato urinário.
Segundo a ginecologista, é difícil determinar em Portugal a incidência real da infeção urinária adquirida na comunidade, mas “estima-se que 50 a 60% apresentará, pelo menos, um episódio ao longo da sua vida”.
Quanto ao pico de incidência de infeções não complicadas do trato urinário baixo em mulheres, “observa-se entre os 18 e os 30 anos, coincidindo com a idade de máxima atividade sexual na mulher e idade fértil”.
Nas mulheres em fase de pós-menopausa, embora seja mais difícil estimar o número de infeções urinárias, calcula-se que, “aos 70 anos, 15% das mulheres apresentem bacteriúria assintomática, número que aumenta para 30-40% em mulheres hospitalizadas/instituições de geriatria e praticamente para os 100% em portadoras de sonda urinária permanente”.
Do diagnóstico ao tratamento
Catarina Peixinho adianta que “a história clínica é o instrumento mais importante para se fazer o diagnóstico de cistite aguda não complicada e deve ser apoiada por um exame objetivo orientado, podendo associar-se a uma análise de urina (tira-teste, urocultura)”.
Os principais sintomas são o aumento da frequência e urgência em urinar, ardor ou dor ardor em cada ida à casa de banho, urina turva e com mau cheiro, dor na região púbica e sangue na urina.
A médica sublinha que “a diferenciação entre cistite complicada e não complicada é vital devido aos aspetos relacionados com a evolução clínica e a escolha e duração da antibioterapia”. Explica que, nos últimos anos, em Portugal, a E. coli tem mostrado elevada resistência às quinolonas e ao cotrimoxazol, o que provavelmente se deve ao elevado consumo destes antibióticos.
Por isso, frisa que “há um interesse crescente em métodos alternativos de prevenção das infeções do trato urinário e alternativa aos antibióticos”, como o consumo de arandos, D-manose (suplemento alimentar) e o uso de probióticos contendo lactobacilos, que ajudam a restaurar a microbiota vaginal em mulheres com tendência para infeções urinárias.
5 conselhos para o verão
Para estes meses mais quentes, há cinco conselhos importantes:
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- Hidratar-se bem. Como está calor e transpiramos mais é importante repor a perda de líquidos. É uma boa forma de prevenir infeções urinárias.
- Não adiar a ida à casa de banho. A falta de hidratação aliada a uma urina mais concentrada faz aumentar o risco de uma infeção.
- Fazer uma alimentação rica e variada. Juntar às boas escolhas alimentares o consumo de arandos e probióticos contendo lactobacilos para prevenir as infeções. Um bom trânsito intestinal também é importante para o sistema urinário.
- Deixar secar bem o fato de banho ou biquíni antes de se vestir e sair da praia para evitar humidade excessiva na região íntima. Preferir roupa íntima de algodão em vez da sintética. Evitar roupas muito apertadas.
- Escolher produtos adequados para lavar a zona íntima. Uma higiene excessiva ou o uso de produtos inadequados que podem causar irritação ou favorecer o aparecimento de infeções.