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Especialistas pedem “mudança urgente” na resposta à epidemia de VIH/sida

luta contra a epidemia de sida em risco

A luta contra o VIH/sida não só não está no caminho certo para erradicar a doença até 2030, como as atuais abordagens, lideradas pela International AIDS Society, não estão a ser suficientes para controlar esta epidemia. É preciso mudar, alerta um relatório publicado na revista The Lancet.

Um documento que combina a experiência de mais de 40 especialistas internacionais, que deixa recomendações para lidar com as ameaças crescentes do VIH para a saúde global.

O VIH tem sido considerado a epidemia dos nossos tempos. No mundo, qualquer coisa como 38,8 milhões de pessoas viviam com o vírus em 2015-2016, com cerca de dois milhões de novos casos diagnosticados em 2015. A estes números junta-se outro: o de mortes, um milhão ao todo só em 2016.

Tem sido nos grupos mais marginalizados (casais do mesmo sexo, utilizadores de drogas injetáveis, profissionais do sexo, etc) que 44% de todas as novas infeções por VIH/sida ocorreram, com os sistemas de saúde a lutarem para alcançar e envolver esses grupos na luta contra a doença.

Ou seja, a epidemia continua predominante nessas populações e em países onde os sistemas de saúde lutam para dar a resposta necessária.

Ainda que as novas infeções estejam em declínio, o seu ritmo é demasiado lento para que se consiga atingir a meta de 500.000 novas infecções até 2020. Entre 2010-2017, as novas infeções diminuíram 16%, para 1,8 milhão por ano em todo o mundo, mas permaneceram substancialmente mais altas para mulheres jovens do que para homens jovens.

Os autores do relatório alertam mesmo que o ressurgimento da epidemia é provável, à medida que a maior geração de jovens entra na adolescência e na idade adulta.

Envelhecimento dita mudança de cuidados

Ao mesmo tempo, os cuidados com a doença estão a mudar, até porque a população de pessoas com VIH está a envelhecer, devido à eficácia dos tratamentos antirretrovirais, que permitem que vivam mais tempo.

Entre 2012 e 2016, o número de pessoas com mais de 50 anos a viver com o vírus aumentou 36% em todo o mundo. Como este grupo tem um risco aumentado de muitas doenças relacionadas com a idade, como doenças cardiovasculares, distúrbios neurocognitivos, doenças renais e alguns tipos de cancro, é necessário um enfoque na prevenção e na gestão das doenças não transmissíveis neste grupo.

Necessário mais financiamento

O financiamento permaneceu estável nos últimos anos, mas abaixo do valor estimado necessário para atingir as metas de 90-90-90, definidos pela ONUSIDA. 

Mas há outras questões a contribuir para esta equação.”A saúde global está a vacilar, à medida que a democracia, a sociedade civil e os direitos humanos se deterioram em muitos países, e a assistência ao desenvolvimento para a saúde está paralisada. Esta perda de dinamismo ocorre quando os sistemas de saúde precisam de se fortalecer, com o crescente número de doenças não transmissíveis”, explica Linda-Gail Bekker, presidente da International AIDS Society e professora da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul. 

“A resposta ao VIH/sida e o amplo campo da saúde global devem trabalhar juntos”, acrescenta.

“Apesar do progresso notável da resposta ao vírus, a situação estagnou na última década. Revigorar esse trabalho será exigente, mas a saúde e o bem-estar futuro de milhões de pessoas exigem que enfrentemos este desafio.”

Modelo atual não é sustentável

Os autores pedem um trabalho conjunto para melhorar a resposta ao VIH, argumentando que isso é essencial para atingir as metas globais definidas até 2030, manter o acesso ao tratamento e financiar mais eficazmente a resposta ao vírus.

Pedem ainda o aumento imediato do financiamento, para evitar outra epidemia, e embora reconheçam que a abordagem “excepcional” à resposta ao VIH/sida tem sido eficaz, consideram que pode não ser sustentável.

“Os sistemas de saúde devem ser projetados para dar resposta às necessidades das pessoas que atendem, tendo a capacidade de lidar com vários problemas de saúde simultaneamente”, refere Chris Beyrer, da Escola de Saúde Pública John Hopkins Bloomberg, nos EUA.

“Ninguém pode ficar para trás nos nossos esforços para alcançar a saúde sustentável. Temos de reconhecer a saúde como um investimento e aumentar os recursos para termos sistemas de saúde mais fortes, sustentáveis ​​e centrados nas pessoas.”

“A comunidade de VIH deve partilhar a sua causa com o campo da saúde global. A abordagem multidisciplinar da resposta ao VIH, incluindo o envolvimento da sociedade civil, a ênfase nos direitos humanos e a igualdade, o impulso à inovação científica e a colaboração global são elementos importantes que podem revitalizar a saúde global”, acrescenta.

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