
Seis em cada dez pessoas com diabetes tipo 2 apresentam esteatose hepática, o chamado fígado gordo, revela um novo estudo da Universidade de Linköping, na Suécia. Mas, destes, apenas uma pequena percentagem desenvolveu doença hepática mais grave. O trabalho, publicado no Journal of Internal Medicine, ajuda também a confirmar que aqueles que têm diabetes tipo 2 em combinação com obesidade têm um maior risco de esteatose hepática, o chamado fígado gordo, resultando num doença hepática mais grave.
Quando o metabolismo não funciona normalmente, como acontece na chamada síndrome metabólica, muitos órgãos do corpo são afetados.
“A síndrome metabólica é uma combinação de fatores que levam o organismo a acumular gordura e a não controlar os níveis de açúcar no sangue de forma adequada. Isto acarreta um risco acrescido de doenças secundárias, como a diabetes tipo 2 e as doenças cardiovasculares”, afirma Wile Balkhed, especialista da Universidade de Linköping e médico residente no Hospital Universitário de Linköping.
Para o fígado, isto pode significar uma acumulação crescente de gordura, uma condição chamada doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (anteriormente chamada doença hepática não alcoólica), problema que se estima afete um em cada três adultos em todo o mundo.
A importância de avaliarproblemas de fígado na diabetes
A esteatose hepática pode levar a doenças hepáticas graves, como a cirrose, caracterizada pela formação de tecido cicatricial no fígado. É relativamente rara, mas para aqueles que desenvolvem doença hepática grave, está associada a um elevado risco de cancro do fígado e a uma elevada mortalidade.
“É de grande importância encontrar os poucos indivíduos com alto risco de doença hepática grave, porque podemos fazer muito bem a estes doentes. Mas é como procurar uma agulha num palheiro. Esperamos que os nossos dados ajudem a encontrar os indivíduos de alto risco entre todos os doentes”, afirma Mattias Ekstedt, professor da Universidade de Linköping e consultor em gastroenterologia e hepatologia do Hospital Universitário de Linköping.
Sabe-se que as pessoas com diabetes tipo 2 apresentam um maior risco de desenvolver esteatose hepática. No entanto, não é claro o quão comum isto é, uma vez que estudos anteriores apresentaram resultados muito diferentes. Para obter dados o mais representativos possível, os investigadores quiseram investigar a presença de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica e cirrose hepática em pessoas com diabetes tipo 2 que comparecem a rastreios de diabetes nos cuidados de saúde primários.
Das mais de 300 pessoas com diabetes tipo 2 que participaram no estudo, cerca de seis em cada dez (59%) apresentavam doença hepática gordurosa associada a disfunção metabólica e cerca de 7% apresentavam alterações sugestivas de cirrose hepática numa fase inicial, uma incidência inferior à reportada em estudos anteriores, realizados em doentes em clínicas especializadas que apresentam frequentemente doença mais grave.
“A descoberta é importante para determinar se os doentes com diabetes tipo 2 devem ser rastreados para doença hepática. Várias organizações internacionais recomendam isto nas suas guidelines”, afirma Wile Balkhed.
O estudo mostra ainda que a obesidade foi um fator de risco para a evolução da doença hepática para cirrose, o que está em linha com o que estudos anteriores já tinham constatado.
“As pessoas com diabetes tipo 2 e obesidade constituem um grupo de risco específico que os cuidados de saúde devem priorizar em esforços futuros. No nosso estudo, 13% deste grupo apresentava cicatrização hepática numa fase inicial, uma proporção muito superior aos 2% no grupo com diabetes tipo 2 sem obesidade”, afirma Wile Balkhed.
Felizmente, a esteatose hepática não tem de ser uma condição permanente. A gordura no fígado pode diminuir significativamente se a pessoa perder peso.