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Casos de demência devem triplicar até 2050, prevê análise global

demência

O número de adultos (com 40 anos ou mais) que vivem com demência em todo o mundo deve quase triplicar, passando de cerca de 57 milhões em 2019 para 153 milhões em 2050, devido sobretudo ao crescimento populacional e ao envelhecimento. O estudo Global Burden of Disease é o primeiro a fornecer estimativas de previsão para 195 países em todo o mundo e é publicado no The Lancet Public Health. Em Portugal, os dados apontam para um aumento de 75%.

O estudo analisa ainda quatro fatores de risco para demência – tabagismo, obesidade, alto teor de açúcar no sangue e baixa escolaridade – e destaca o impacto que terão nas tendências futuras. Por exemplo, estima-se que as melhorias no acesso à educação global possam reduzir a prevalência de demência em 6,2 milhões de casos em todo o mundo até 2050. Mas isso será combatido por tendências antecipadas de obesidade, nível alto de açúcar no sangue e tabagismo, que devem resultar em mais 6,8 milhões de casos de demência.

Os autores destacam a necessidade urgente de implementar intervenções adaptadas localmente, capazes de reduzir a exposição aos fatores de risco, juntamente com estudos para descobrir tratamentos eficazes capazes de modificar a doença eficazes e novos fatores de risco modificáveis ​​para reduzir a carga futura.

“O nosso estudo oferece melhores previsões para a demência a uma escala global e também ao nível dos países, dando aos formuladores de políticas e especialistas em saúde pública novos insights para compreenderem os impulsionadores desses aumentos, com base nos melhores dados disponíveis”, refere a autora principal Emma Nichols, especialista do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, EUA.

“Essas estimativas podem ser usadas por governos nacionais para garantir que estão disponíveis recursos e apoio para indivíduos, cuidadores e sistemas de saúde em todo o mundo.”

Ainda de acordo com a mesma fonte, é preciso uma maior concentração “na prevenção e no controlo dos fatores de risco antes que resultem em demência. Mesmo avanços modestos na prevenção da demência ou no retardamento da sua progressão pagariam dividendos notáveis. Para ter um maior impacto, precisamos de reduzir a exposição aos principais fatores de risco em cada país. Para a maioria, isso significa expandir programas locais de apoio a dietas mais saudáveis, mais exercício, parar de fumar e melhor acesso à educação. E também significa continuar a investir em pesquisas para identificar tratamentos eficazes para interromper, retardar ou prevenir a demência”.

Demência é 7ª causa de morte

A demência é atualmente a sétima causa de morte em todo o mundo e uma das principais causas de incapacidade e dependência entre os idosos, com custos globais estimados, em 2019, em mais de um milhão de biliões de dólares.

Embora a demência afete sobretudo os idosos, não é uma consequência inevitável do envelhecimento. Uma Comissão Lancet, publicada em 2020, sugeriu que até 40% dos casos de demência poderiam ser evitados ou adiados se a exposição a 12 fatores de risco conhecidos fossem eliminados: baixa escolaridade, pressão alta, deficiência auditiva, tabagismo, obesidade na meia-idade, depressão, inatividade física, diabetes, isolamento social, consumo excessivo de álcool, traumatismo craniano e poluição do ar.

O estudo prevê que o maior aumento na prevalência ocorrerá na África subsaariana oriental, onde o número de pessoas que vivem com demência deverá aumentar em 357%, passando de quase 660.000, em 2019, para mais de 3 milhões em 2050, impulsionado sobretudo pelo crescimento populacional – com Djibouti (473%), Etiópia (443%) e o sul do Sudão (396%) a observarem os maiores aumentos.

Da mesma forma, no norte da África e no Médio Oriente, os casos devem crescer 367%, chegando a quase 14 milhões, com aumentos particularmente grandes no Quatar (1926%), nos Emirados Árabes Unidos (1795%) e no Bahrein (1084%).

Em contraste, espera-se que o menor aumento no número de casos de demência aconteça nos países mais ricos da Ásia, onde o número de casos deve crescer 53%, passando de 4,8 milhões para 7,4 milhões em 2050 – com um aumento particularmente pequeno no Japão (27%). Nesta região, espera-se que o risco de demência para cada faixa etária diminua, sugerindo que medidas preventivas, incluindo melhorias na educação e estilos de vida saudáveis, estão a surtir o seu impacto.

Da mesma forma, na Europa Ocidental, espera-se que o número de casos de demência aumente em 74% (para 14 milhões). Aumentos relativamente pequenos no número de casos são esperados para a Grécia (45%), Itália (56%), Finlândia (58%), Suécia (62%) e Alemanha (65%). No Reino Unido, projeta-se que o número de casos de demência aumente em 75%, valor igual ao estimado para Portugal.

Mulheres são mais afetadas

Globalmente, são mais as mulheres afetadas pela demência do que homens. Em 2019, para cada 100 mulheres com demência contavam-se 69 homens, um padrão que deve continuar em 2050.

“Não é apenas porque as mulheres tendem a viver mais”, diz a coautora Jaimie Steinmetz, da Universidade de Washington, EUA. “Há evidências de diferenças de sexo nos mecanismos biológicos que estão por detrás da demência. Foi sugerido que a doença de Alzheimer pode espalhar-se de maneira diferente no cérebro das mulheres e dos homens, e vários fatores de risco genéticos parecem relacionados com o risco de doença por sexo.”

De acordo com o coautor Theo Vos, “os países com rendimentos baixos e médios devem implementar políticas nacionais agora que podem mitigar os fatores de risco da demência para o futuro, como priorizar a educação e estilos de vida saudáveis. Garantir que as desigualdades estruturais no acesso aos serviços de saúde e assistência social possam ser abordadas e que os serviços possam, adicionalmente, ser adaptados às necessidades sem precedentes de uma população cada vez mais idosa com necessidades complexas de cuidados exigirá um planejamento considerável a nível local e nacional”.

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