Um estudo realizado juntos de quase meio milhão de pessoas confirma, pela primeira vez, que ter um estilo de vida fisicamente ativo beneficia mais quem vive com doenças cardiovasculares do que os restantes.
São muitas as evidências que confirmam que a prática de atividade física reduz o risco de morte por doença cardiovascular nas pessoas saudáveis, mas menos os que indiciam o mesmo para quem já tem este tipo de doenças, embora as diretrizes a recomendem para todos.
Publicado hoje no European Heart Journal, o trabalho, realizado por um grupo de investigadores liderado por Sang-Woo Jeong, cardiologista da Universidade Nacional de Seul, analisou os dados de um total de 441.798 pessoas, submetidas a um programa de triagem de saúde entre 2009 e 2015, para perceber a diferença entre os dois grupos.
E mostra que o aumento da atividade física reduziu o risco de morte durante um período de acompanhamento de seis anos para as pessoas com e sem doença cardiovascular, ainda que a redução tenha sido maior nos que tinham estas doenças.
Redução do risco de morte maior para quem tem doenças cardiovasculares
Com idade superior a 40 anos, os participantes tinham, em média, 60 anos. Ao todo, 131.558 sofriam de doenças cardiovasculares, 53,5% eram homens e foram acompanhados ao longo de quase seis anos. No que diz respeito à atividade física, foram inquiridos sobre a que realizaram nos últimos sete dias.
“As diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia para a prevenção primária recomendam que os adultos saudáveis, de todas as idades, realizem pelo menos 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos por semana de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa ou uma combinação equivalente”, recorda Si-Hyuck Kang, coautor do estudo.
“Uma forma de atingir 500 minutos por semana é caminhar rapidamente durante 30 minutos, cinco vezes por semana. Se estiver muito ocupado e não tem tempo para se exercitar, outra forma de atingir essa meta é realizar atividades físicas vigorosas”, acrescenta.
No final do período de acompanhamento, os investigadores verificaram que as pessoas com doenças cardiovasculares beneficiavam mais do exercício físico do que aquelas sem doença: para cada 500 minutos MET (Metabolic Equivalent Task, que quantifica a necessidade energética para cada tarefa) por semana, o risco de morte foi reduzido em 14% e 7%, respetivamente.
Exercício físico: uma forma económica de viver mais
Após o ajuste para fatores que poderiam afetar os resultados, como a idade, sexo, tabagismo e outros problemas médicos, o estudo confirmou que o risco de morte entre os totalmente sedentários foi 27% maior do que entre os que realizavam mais atividade física.
“Descobrimos que aproximadamente metade das pessoas no estudo não atingiu o nível recomendado de atividade física e um quarto tinha um estilo de vida totalmente sedentário. Quem tem doenças cardiovasculares apresentou níveis mais baixos de atividade física do que aquelas sem, mas quanto mais as pessoas se exercitavam, menor o risco de morte durante os seis anos de acompanhamento”, refere Sang-Woo Jeong.
“A principal descoberta, que é nova, deste estudo é que as pessoas com doenças cardiovasculares beneficiam de um estilo de vida fisicamente ativo em maior extensão do que as pessoas saudáveis.”
Podem ser várias as explicações para este facto, refere Kang. “Primeiro, o estilo de vida sedentário é um fator de risco bem conhecido para as doenças cardiovasculares e, por isso, mudar o estilo de vida para se tornar mais ativo fisicamente pode ser mais benéfico.”
Em segundo lugar, acrescenta, “vários estudos anteriores mostraram que a atividade física ajuda a controlar fatores de risco cardiovascular, como a pressão arterial, colesterol e glicose no sangue. O benefício da atividade física na prevenção secundária pode advir do melhor controlo desses fatores de risco. Por fim, pessoas com doenças cardiovasculares apresentam geralmente níveis mais altos de inflamação sistémica do que aqueles sem estas doenças, havendo evidências de que a atividade física diminui os níveis inflamatórios sistémicos”.
Como resultado destas descobertas, o especialista considera que “os médicos devem enfatizar a importância de um estilo de vida fisicamente ativo para as pessoas com doenças cardiovasculares. Eles devem ser incentivados a manter o máximo de atividade física possível. Pessoas fisicamente ativas dormem melhor, sentem-se melhor e funcionam melhor”.
“Gostaríamos de enfatizar que a atividade física é uma forma económica de viver mais, mais saudável e feliz, com poucos efeitos adversos.”