Os garrotes utilizados nas unidades de saúde estão muitas vezes contaminados por microrganismos potencialmente patogénicos e resistentes a antibióticos, revela um estudo nacional, que dá conta do risco para a saúde dos utentes e a qualidade dos cuidados prestados.
Realizado no âmbito do projeto “TecPrevInf – Transferência de inovação tecnológica para as práticas dos enfermeiros: contributos para a prevenção de infeções”, alerta para a necessidade de utilização, pelos profissionais de saúde, de dispositivos descartáveis (se possível, garrotes de uso individualizado) ou da adoção de eficazes medidas de descontaminação destes dispositivos destinados a facilitar a punção venosa, sempre que reutilizados.
Liderado pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) e intitulado ‘A disseminação microbiológica associada aos garrotes utilizados durante a punção venosa periférica: achados de uma scoping review’, o trabalho partiu da revisão científica de 20 estudos feitos em diversos países, publicados entre 1986 e 2017, num total de 1.479 garrotes analisados.
De acordo com a scoping review (revisão sistematizada destinada a mapear estudos científicos relevantes em determinada área), conclui-se que “as taxas de contaminação variam entre os 10 e os 100%”, sendo que “15 dos 20 estudos analisados revelam a existência de contaminação em pelo menos 70% dos garrotes observados”.
Resultados que, de acordo com os investigadores, são corroborados pelos resultados da investigação desenvolvida pelo projeto numa unidade hospitalar do centro de Portugal, que apresentou “uma taxa de contaminação de 86% em 35 zaragatoas” recolhidas para análise em garrotes utilizados na cateterização venosa periférica.
E “os microrganismos isolados encontrados foram similares aos identificados na literatura, também no que respeita a microrganismos multirresistentes”, referem os responsáveis por estes dois estudos.
Numa das fases mais avançadas desta investigação realizada no centro do País, foram introduzidos dispositivos descartáveis (garrotes) de uso único no contexto clínico em estudo, referem os investigadores do TecPrevInf, segundo os quais “as guidelines e orientações mais recentes recomendam o uso de garrote descartável, se possível de utilização única”, sendo que, “quando não for possível individualizar o garrote”, se devem “cumprir os protocolos de descontaminação apropriados antes e após a sua utilização”.
Aliar conhecimento à prática clínica
Coordenado pela ESEnfC, o projeto TecPrevInf tem por objetivo a implementação de tecnologias inovadoras na prática clínica dos enfermeiros com vista à prevenção de infeções associadas aos cuidados de saúde, relacionadas com o uso do cateter venoso periférico.
O projeto TecPrevInf está inscrito na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, no seu eixo estratégico TecCare, que pretende aliar o conhecimento e a prática clínica à investigação experimental desenvolvida no mundo do ensino superior no domínio das tecnologias dos cuidados de saúde, visando a inovação e a transferência de conhecimento para uma melhoria da saúde prestada às populações.