Uma maçã ou um gelado: se tivesse que escolher, qual seria? Não raras vezes, quando colocados perante estas questões, optamos pela opção menos saudável, mesmo sabendo que a primeira é a escolha certa. E como é que podemos ultrapassar os processos subjacentes, automáticos e habituais, que muitas vezes prejudicam comportamentos saudáveis e impulsionam a disseminação de doenças, como diabetes e doenças cardíacas?
Para Paul Fletcher, professor de Neurociências da Universidade de Cambridge, a resposta está em perceber que os nossos processos de tomada de decisões não são inteiramente racionais, ou mesmo conscientes e que, por isso, abordagens que apelam apenas à lógica podem não ser bem-sucedidas.
O tema vai estar em debate, em Cambridge, onde o especialista falará sobre os estímulos externos – disponibilidade e promoção de alimentos doces, salgados e gordurosos – e os processos internos – incluindo stress e ansiedade, que agem contra a tomada de uma decisão racional.
“A ideia de que o cérebro é um mestre de marionetas é muitas vezes errada”, refere Paul Fletcher, citado pela Universidade de Cambridge.
“Há muitas outras influências, do nosso corpo, do meio ambiente, muitas das quais frequentemente abaixo do nível consciente. De tempos em tempos, agimos de formas que vão contra os nossos objetivos de longo prazo, procurando recompensas mais imediatas. Mas a maioria das tentativas de mitigar essa tendência baseiam-se em grande parte na educação e na informação, que jogam com a mente racional.”
De acordo com o especialista, estes estímulos ambientais incluem marcas, que muitas vezes se confundem com recompensas. “As marcas enviam estímulos intrinsecamente poderosos que geram prazer em si mesmos”, reforça, mencionando experiências, feitas nos EUA, com crianças pequenas que mostram que a mera presença de um logótipo do McDonald’s em alimentos saudáveis “parece mudar o valor desses alimentos”, aumentando o gosto por eles.
O desafio de um mundo de estímulos
“O desafio é que estamos a viver num mundo que é preenchido por estímulos que podem ser subtis mas conseguem moldar os nossos comportamentos. Dado que muitos dos nossos impulsos em direção ao consumo atuam a um nível muito imediato e irreflexivo, é provável que as melhores abordagens para a mitigação de decisões e comportamentos prejudiciais à saúde tenham que funcionar a esse nível”, reforça.
Outro fator crucial na determinação do que comemos e do quanto comemos vem de sinais que estamos a receber dos nossos corpos, explica Fletcher.
Sinais que podem ser metabólicos, hormonais e neurais. Explorar como estes sinais interagem com estímulos no mundo será uma parte importante de um entendimento abrangente que impulsiona os comportamentos.
Para o especialista, moralizar, nomear e envergonhar não vai funcionar e a educação sozinha não é suficiente. Será, por isso mesmo, necessária “legislação extenuante”, mas também desenvolver uma compreensão mais profunda dos fundamentos neurobiológicos e psicológicos da tomada de decisões e do comportamento.