Cerca de 13% das mulheres portuguesas nunca fizeram o rastreio do cancro do colo do útero e, entre as que fizeram, 12% não seguem as recomendações europeias relativas à periodicidade de realização do exame. Os dados são de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que ainda assim dá conta de um aumento do número de mulheres que fazem este rastreio.
Publicado no Journal of Obstetrics and Gynaecology Research, o estudo teve como objetivo, como explica em comunicado Bárbara Peleteiro, coordenadora da investigação, “descrever o uso do exame de rastreio do cancro do colo do útero em Portugal”, o quarto tipo de cancro mais comum nas mulheres, “e identificar os fatores associados à não utilização ou subutilização do teste”.
Ao todo, foram analisados dados de 5.884 mulheres, com idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos, que responderam ao Inquérito Nacional de Saúde 2014.
Destas, 87% confirmaram terem-se submetido ao rastreio, o que significa que o uso do teste aumentou em cerca de 10%, comparando com os dados obtidos no Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006. Ainda assim, cerca de 13% das mulheres nunca fizeram o rastreio.
Assimetrias regionais no rastreio do cancro do colo do útero
Ainda que a maioria tenha feito o rastreio, os investigadores dão conta de assimetrias regionais, com o Norte do País a surgir como a zona onde se registam as percentagens mais altas de adesão ao teste, ao contrário do Alentejo, Algarve e Regiões Autónomas, onde se contabilizam os maiores níveis de não adesão.
São as mulheres solteiras, que pertencem a um estatuto socioeconómico mais baixo e que adotam estilos de vida menos saudáveis (como ingestão de bebidas alcoólicas, consumo de tabaco, etc.) as que menos fazem o teste, ao contrário das que apresentam um nível de escolaridade mais elevado, maiores rendimentos e usam com maior frequência os serviços de saúde.
“Nestes últimos anos, conseguimos aumentar o número de pessoas que fazem o rastreio, o que é positivo”, refere Bárbara Peleteiro.
“Contudo, quando analisamos as características sociodemográficas que explicam a não adesão das mulheres, vemos que estas continuam a ser as mesmas de há 10 anos. Isto significa que chegamos a mais pessoas, mas não às mulheres que já não utilizavam antes o exame.”
Mantêm-se também as diferenças regionais, com as mulheres que vivem em regiões mais pobres e com estilos de vida menos saudáveis a aderirem menos ao rastreio, pelo que “importa pensar em estratégias que ajudem a motivar esta população a utilizar o programa de rastreio organizado”.