
Quando se trata da saúde cardíaca, a qualidade dos alimentos importa tanto como uma dieta com baixo teor de hidratos de carbono ou gordura. É pelo menos isso que conclui um novo estudo, que acompanhou quase 200.000 pessoas durante várias décadas e que sugere que escolher alimentos saudáveis e de alta qualidade é fundamental para proteger o coração.
Nas últimas duas décadas, as dietas com baixo teor de hidratos de carbono e gordura têm sido promovidas pelos seus potenciais benefícios para a saúde, como o controlo do peso e a melhoria dos níveis de açúcar e de colesterol no sangue. No entanto, o impacto destas dietas na redução do risco de doença cardíaca continua em debate.
“Descobrimos que o que se come em dietas com baixo teor de hidratos de carbono ou gordura importa tanto como a dieta em si”, explica Zhiyuan Wu, investigador na Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard, cujo estudo foi apresentado no NUTRITION 2025, o principal encontro anual da Sociedade Americana de Nutrição.
Versões saudáveis destas dietas, ricas em alimentos vegetais e cereais integrais, foram associadas a melhores resultados para a saúde cardíaca e à melhoria da função metabólica. Pelo contrário, as dietas com baixo teor de hidratos de carbono e gorduras, com ênfase nos alimentos não saudáveis, têm sido associadas a um maior risco de doença cardíaca.
Qualidade dos alimentos importa mais do que quantidade
O estudo incluiu quase 200.000 participantes durante várias décadas, monitorizando os seus hábitos alimentares e se desenvolveram doenças cardíacas.
Com base em informações de questionários detalhados preenchidos pelos participantes, os investigadores atribuíram pontuações que indicavam o quão saudáveis ou não saudáveis eram as suas escolhas alimentares em dietas com baixo teor de hidratos de carbono e gorduras.
E classificaram os hidratos de carbono, as gorduras e as proteínas dos alimentos como cereais integrais, frutas, legumes, frutos secos e leguminosas como nutrientes de alta qualidade ou saudáveis, enquanto os hidratos de carbono das batatas e os cereais refinados, bem como as gorduras saturadas e as proteínas dos alimentos de origem animal, foram categorizados como de baixa qualidade ou não saudáveis.
Para mais de 10.000 participantes do estudo, os investigadores também mediram centenas de metabolitos sanguíneos para avaliar como a qualidade da dieta influenciava a sua regulação metabólica. “Esta abordagem permitiu-nos compreender melhor os efeitos biológicos destas dietas e fortaleceu as nossas descobertas”, afirma Wu.
A análise mostrou que os participantes que seguiram uma dieta saudável com baixo teor de hidratos de carbono ou gorduras apresentaram um menor risco de desenvolver doença arterial coronária, enquanto aqueles que seguiram versões não saudáveis apresentaram um risco aumentado. Estes padrões alimentares saudáveis, sejam eles com baixo teor de hidratos de carbono ou de gordura, reduziram o risco de desenvolver doenças cardíacas em cerca de 15%.
“As nossas descobertas sugerem que melhorar a qualidade dos alimentos é essencial para melhorar a saúde cardíaca”, refere Wu. “Independentemente de alguém seguir uma dieta com baixo teor de hidratos de carbono ou de gordura, enfatizar alimentos integrais, minimamente processados e de origem vegetal, e limitar grãos refinados, açúcar e alimentos de origem animal, pode reduzir significativamente o risco de doença coronária.”
Para aqueles que procuram melhorar a dieta, os investigadores sugerem que se foquem na adição de mais cereais integrais, frutas, vegetais, frutos secos e leguminosas, ao mesmo tempo que reduzem o consumo de carnes processadas, hidratos de carbono refinados e alimentos açucarados. Referem que também é importante verificar os rótulos dos alimentos e estar atento à adição de ingredientes de baixa qualidade, como açúcares adicionados em sumos e snacks processados.
No futuro, os investigadores pretendem explorar fatores adicionais que possam influenciar a relação entre a qualidade da dieta e a saúde cardíaca. Por exemplo, querem analisar como os fatores genéticos, as escolhas de estilo de vida e outros marcadores metabólicos podem moldar ainda mais estas associações.
Estão também interessados em saber como as dietas com baixo teor de hidratos de carbono ou gordura podem ter impacto noutros desfechos de saúde, como a diabetes tipo 2 e o cancro, conhecimento que pode ajudar a personalizar as recomendações alimentares para as pessoas com base nos seus perfis de saúde específicos.