
Os cientistas descobriram que a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade (PHDA) nas mulheres é diagnosticada aproximadamente cinco anos mais tarde do que nos homens, apesar de os sintomas surgirem na mesma idade. As mulheres com PHDA também sofrem maiores dificuldades emocionais e funcionais do que os homens.
Silvia Amoretti, a investigadora principal deste estudo, apresentado no Congresso do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP), esclarece que a “PHDA afeta milhões de pessoas, mas a nossa compreensão de como se apresenta e impacta homens e mulheres de forma diferente permanece limitada. Verificámos que as mulheres são subdiagnosticadas, recebendo frequentemente o diagnóstico anos mais tarde do que os homens”.
Um atraso que, reforça, “pode levar a desfechos clínicos piores, incluindo depressão, ansiedade e comprometimento funcional. Os homens, por outro lado, apresentaram um maior envolvimento em comportamentos delinquentes, como problemas legais e dificuldades relacionadas com a condução. Acreditamos que uma melhor compreensão diferenças baseadas no sexo pode melhorar o diagnóstico e o tratamento”.
Manifestação diferente dos sintomas
Os investigadores analisaram uma grande amostra clínica de 900 adultos (54,9% homens, 45,1% mulheres, com uma idade média de 36,94 anos), diagnosticados com PHDA pela primeira vez num programa ambulatório especializado em Barcelona. E avaliaram as diferenças entre homens e mulheres em termos de idade no diagnóstico, gravidade dos sintomas de PHDA, comorbilidades psiquiátricas, funcionamento psicossocial e incapacidade.
Os participantes foram sujeitos a um conjunto de entrevistas clínicas e a escalas de avaliação validadas e verificaram que as mulheres foram diagnosticadas com PHDA com uma idade média de 28,96 anos, enquanto os homens foram diagnosticados com PHDA em média aos 24,13 anos. Os sintomas surgiram em homens e mulheres aproximadamente na mesma idade e os homens tinham uma probabilidade cerca de três vezes maior de ter enfrentado problemas legais (18,1%) do que as mulheres (6,6%).
“Verificámos que, embora os sintomas de PHDA tenham começado em idades semelhantes em homens e mulheres, as mulheres foram diagnosticadas cerca de cinco anos depois. No momento do diagnóstico, apresentavam sintomas mais graves, pior desempenho na vida diária e maiores taxas de depressão e ansiedade”, refere Silvia Amoretti.
Isto é importante, afirma, porque “mostra que a PHDA passa frequentemente despercebida nas mulheres até se tornar um problema sério. As nossas descobertas sugerem que podemos estar a ignorar os primeiros sinais em raparigas e mulheres, especialmente quando os seus sintomas são menos perturbadores, mas ainda assim impactantes. Isto tem implicações claras para o rastreio precoce e para as ferramentas de diagnóstico sensíveis ao sexo.”
É provável que as mulheres sejam diagnosticadas mais tarde, uma vez que os sintomas de PHDA se manifestam de forma diferente nos homens e nas mulheres: os rapazes são mais propensos a serem hiperativos ou impulsivos, e este comportamento é mais visível para os pais, professores e médicos. Por outro lado, as raparigas com PHDA são mais propensas a parecer desatentas e, geralmente, menos perturbadoras. Isto torna-se clinicamente importante, pois significa que as mulheres simplesmente não são tratadas precocemente e, muitas vezes, não são diagnosticadas.
“Observamos tendências semelhantes a nível internacional, pelo que é provável que este seja um problema global. A natureza da condição leva a um diagnóstico mais precário nas mulheres de todo o lado, o que significa que as mulheres podem perder, em média, cinco anos de tratamento, cinco anos de uma vida melhor.”