As propostas apresentadas no Parlamento que visam promover o diagnóstico precoce da endometriose e reforçar o acesso a produtos de recolha menstrual são bem-vindas pela Mulherendo – Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose. No entanto, a associação lamenta não ter sido consultada no sentido de poder colaborar na elaboração dos projetos levados à Assembleia da República.
Uma insatisfação que motivou um pedido de audiência à Comissão de Saúde.
Foram dois os projetos de resolução apresentados pelo Bloco de Esquerda (BE) no fim de maio. Projetos que a Mulherendo vê com bons olhos, uma vez que reforçam “a importância do trabalho de sensibilização, formação e consciencialização para a problemática da endometriose”, que a associação desenvolve desde 2013, explica Susana Fonseca, presidente da Mulherendo.
Mas a porta-voz lamenta “ter tido conhecimento desta iniciativa pela comunicação social” e não ter sido “ouvida para a elaboração das propostas a apresentar em representação das pacientes que sofrem com esta patologia. Reforçamos ainda que, algumas das medidas propostas, já se encontram implementadas pela nossa associação com sucesso”.
Em defesa das mulheres com endometriose desde 2013
Desde 2013 que a Mulherendo procura colmatar a ausência total de informação e apoio às mulheres com endometriose.
Em comunicado, refere que, “desde a sua constituição, tem por objetivo chamar a atenção da população em geral e da classe médica para a existência desta patologia, que afeta uma em cada dez mulheres em idade fértil, bem como dar apoio, de forma direta, às pacientes que já estão com o diagnóstico ou que, tendo todos os sintomas, se veem privadas do mesmo por falta de formação específica dos profissionais de saúde a quem recorreram”.
Entre as atividades promovidas destaca-se o constante suporte e apoio às pacientes portadoras desta patologia, de forma totalmente gratuita, trabalho que tem como resultado o contacto com muitas mulheres. Só em 2019, a Mulherendo recebeu 1793 contactos por parte de pacientes.
Para concretizar os objetivos da associação – um diagnóstico mais precoce e a melhoria da qualidade do tratamento e consequente melhoria de qualidade de vida das pacientes -, a MulherEndo formalizou uma candidatura ao Programa de Capacitação para o Investimento Social, de onde resultou a formação certificada de um total de 16 doentes.
O objetivo passou por qualificar estas mulheres, residentes em várias zonas do país, de Norte a Sul, para implementar sessões de esclarecimento e sensibilização em estabelecimentos de ensino e em unidades de saúde primárias.
“Para estas sessões, criámos um conjunto de materiais devidamente adequados e preparados tendo em conta o público-alvo, nomeadamente dois vídeos informativos, apresentações em Power Point para os diferentes públicos, dois Kits com jogos adequados às idades e um manual informativo que é entregue nas unidades de saúde aquando das sessões de sensibilização”, esclarece Susana Fonseca.
Recorde-se que a endometriose é uma doença inflamatória crónica, que se caracteriza pela presença de glândulas e estroma endometrial fora do útero.
É uma doença complexa, que provoca dores pélvicas crónicas incapacitantes, afetando sobretudo as mulheres em idade reprodutiva.