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Portuguesa recebe bolsa de dois milhões para estudar o comportamento defensivo

investigadora portuguesa

O que é que leva os indivíduos a optarem por uma estratégia defensiva específica num determinado momento? Os mecanismos cerebrais aqui subjacentes não eram muito conhecidos até Marta Moita, investigadora portuguesa, ter recebido apoios para o fazer. Agora, é uma bolsa milionária que a motiva a prosseguir os estudos e a descobrir mais sobre o tema.

Serão, ao todo, dois milhões de euros, atribuídos pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC), para que a investigadora possa aprofundar o seu trabalho inovador sobre as bases neurais dos comportamentos defensivos, um tema de grande importância para todos os animais, incluindo os seres humanos.

Para isso, a diretora adjunta do Programa de Investigação Champalimaud e líder do Laboratório de Neurociências Comportamentais do Centro Champalimaud, em Lisboa, volta a socorrer-se da mosca-da-fruta. Porquê? É que, ao contrário do que se possa pensar, estes insetos têm mais em comum connosco do que poderíamos pensar.

As semelhanças entre a mosca-da-fruta e os humanos

“Quando iniciámos o projeto, então financiado com uma bolsa Starting Grant da ERC, queríamos saber se a mosca-da-fruta nos poderia ensinar como o cérebro faz para escolher qual dos três comportamentos defensivos canónicos a aplicar perante uma ameaça: fugir, lutar ou imobilizar-se no sítio onde estão”, recorda, em comunicado.

Num estudo publicado no início deste ano na revista científica Nature Communications, Moita e sua equipa mostraram que as moscas-da-fruta nem sempre tentam fugir das ameaças, como muitos pensavam, optando por fazer escolhas de acordo com uma estratégia defensiva, que depende do que estão a fazer naquele momento: escapam ou permanecem imóveis em função da sua velocidade de marcha no momento em que a ameaça aparece.

A investigadora foi ainda mais longe e identificou também alguns dos neurónios específicos envolvidos neste comportamento.

Ambiente social influencia resposta a ameaças

A investigadora explica que as descobertas foram possíveis principalmente porque “na mosca-da-fruta, podemos explorar essas questões mais profundamente. As moscas-da-fruta são um excelente modelo animal, onde é possível realizar um grande número de manipulações genéticas e neurais que realmente permitem ‘descodificar os circuitos neurais’ que estão na base dos seus comportamentos”.

A partir destas e de outras novas descobertas, a especialista irá agora estudar a influência de outras variáveis, tais como o ambiente social, na resposta da mosca a uma ameaça.

“Mais uma vez, este era um campo inexplorado”, aponta a investigadora, “mas já reunimos fortes indícios que sugerem que a resposta da mosca a uma ameaça é fortemente modulada pela resposta das suas congéneres”.

“Tal como nós desataríamos a fugir se víssemos uma multidão de pessoas em pânico a correr – mas manteríamos a calma se os outros parecessem serenos, mesmo em situações de incerteza –, descobrimos que o comportamento da mosca também é claramente modulado pelo comportamento das outras moscas em seu redor.”

Planos para o futuro

Nos próximos cinco anos, e graças ao financiamento agora obtido, Marta Moita e a sua equipa vão dedicar-se a perceber o contributo do ambiente social e espacial na escolha da estratégia defensiva, bem como a identificar os circuitos cerebrais que processam as informações relevantes e executam as decisões.

“Este projeto fornecerá uma compreensão abrangente do mecanismo de imobilização e da sua modulação pelo ambiente, da escala do neurónio à do comportamento. Esperamos encontrar princípios de organização que possam ser generalizados a outras espécies, como aconteceu com os sistemas olfativo e visual de insetos e mamíferos”, conclui.

Com isto em mente, irá usar o dinheiro da bolsa ERC para recrutar investigadores especializados, adquirir novos equipamentos para realizar experiências comportamentais adicionais e também ferramentas para medir a atividade dos neurónios no cérebro das moscas.

“Esta bolsa da União Europeia promove realmente a investigação e a inovação na Europa porque dá a cientistas de topo a possibilidade de arriscar e de aprofundar as suas melhores e talvez mais arrojadas ideias”, refere Carlos Moedas, Comissário da Investigação Ciência e Inovação.

“Folgo em saber que estas bolsas ERC irão financiar um grupo muito diversificado de pessoas de 40 nacionalidades a trabalhar em mais de 20 países e que a lista dos destinatários das bolsas também reflete que temos muitas mulheres cientistas excelentes na Europa.”

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