Quase seis em cada dez mortes por doenças que podem ser tratadas são resultado de cuidados de saúde de baixa qualidade, revela um estudo que incidiu sobre os países de rendimentos médios e baixos. Este é mesmo um maior assassino do que o acesso insuficiente ao tratamento
Ao todo, por ano, cerca de cinco milhões de pessoas morrem como resultado de cuidados abaixo do padrão, um valor muito acima dos 3,6 milhões de mortes por falta de acesso a cuidados de saúde.
“Durante muito tempo, o discurso global sobre saúde tem sido concentrado em melhorar o acesso aos cuidados, sem um ênfase suficiente nos cuidados de alta qualidade”, refere Muhammad Pate, coautor do relatório, publicado na revista The Lancet.
“Proporcionar serviços de saúde sem garantir um nível mínimo de qualidade é ineficaz, desperdiçador e antiético.”
“Epidemia de cuidados de baixa qualidade”
Os cuidados desadequados foram um fator presente em 84% das mortes por doenças cardiovasculares, em 81% das doenças evitáveis por vacinação e em 61% das complicações pós-parto, revela o mesmo estudo.
Um problema que se estende às grávidas e crianças, que normalmente beneficiam de menos de metade das intervenções recomendadas, o que inclui a monitorização da pressão arterial durante o parto e exames aos recém-nascidos.
Menos de metade dos casos suspeitos de tuberculose foram geridos de forma correta e menos de uma em cada 10 pessoas com doença do foro depressivo recebeu cuidados mínimos.
Os diagnósticos são frequentemente incorretos para as doenças graves, como pneumonia, ataques cardíacos ou asfixia neonatal, um problema que pode causar a morte por asfixia, acrescenta o relatório, onde se lê também que “os cuidados podem ser muito lentos para as situações que exigem ação oportuna, reduzindo as probabilidades de sobrevivência”.
“A vasta epidemia de cuidados de baixa qualidade sugere que não há uma solução rápida e os formuladores de políticas devem comprometer-se com a formulação dos fundamentos dos sistemas de saúde”, acrescenta Muhammad Pate.
“Isso inclui a adoção de uma estratégia clara de qualidade, a organização de serviços para maximizar os resultados e não o acesso isolado, a modernização da educação dos profissionais de saúde e a participação do público na procura por um atendimento de melhor qualidade.”