A falta de simpatia dos profissionais de saúde pode fazer diferença na dor sentida durante os tratamentos, garante um estudo apresentado na reunião anual do congresso norte-americano ANESTHESIOLOGY® 2019.
Os autores do trabalho concluíram que o cuidado e simpatia de quem, por exemplo, faz a recolha de sangue para análises, tem impacto.
Ou seja, aquela pessoa que faz perguntas sobre as experiências anteriores dos doentes com agulhas e tem em consideração as suas preferências pode proporcionar uma experiência completamente diferente.
De facto, as pessoas que participaram no estudo tiveram uma probabilidade 390% maior de afirmar que a sua dor era bem controlada quando quem fazia a colheita era simpático.
Mais simpatia, menos dor sentida
Os investigadores decidiram avaliar se a recolha de sangue feita várias vezes ao dia aumentaria a dor sentida e, em seguida, se a cortesia do profissional de saúde aliviaria o desconforto de um número maior de picadelas de agulha.
“Não é de surpreender que um profissional de saúde cortês possa melhorar a experiência do doente, mas ficamos chocados com o quão poderoso esse fator era”, refere Mario Moric, principal autor do estudo e bioestatístico do Rush University Medical Center, em Chicago .
“Acontece que a experiência da dor é muito mais afetada pela atitude das pessoas que a tratam.”
Foi analisada a resposta de 4.740 adultos sobre a sua experiência na sequência de uma hospitalização, especificamente em relação a duas perguntas: controlo da dor e a cortesia da pessoa que tirou o sangue.
Os doentes foram hospitalizados por vários motivos, incluindo doenças, cirurgia, etc. O tempo médio de permanência foi de 5,3 dias e o número médio de recolhas de sangue foi de 3,8.
Nas duas questões relacionadas com a dor, os doentes responderam de 1 (nunca) a 4 (sempre). Os investigadores determinaram que 3.882 dos 4.740 doentes (82%) responderam 4 quando questionados sobre a frequência com que a equipa fazia o possível para os ajudar com a dor e 3.112 (65%) responderam 4 quando questionados sobre com que frequência a sua dor era bem controlada.
Foi pedido aos doentes, separadamente, que classificassem a cortesia da pessoa que tirou o sangue de 1 (muito má) a 5 (muito boa). Os investigadores descobriram que aqueles que responderam 5 tiveram 390% mais probabilidade de classificar o seu controlo da dor como 4 (o máximo) do que aqueles que classificaram o seu médico como menos cortês.
O impacto da gentileza
A recolha repetida de sangue é frequentemente uma fonte significativa de ansiedade e preocupação e, por isso, associada à experiência da dor. Os resultados do estudo sugerem que, embora a recolha de sangue feita várias vezes ao dia possa ser desagradável, se a pessoa que a faz for empática, a experiência geral da dor pode ser melhorada.
“É importante continuar a melhorar os procedimentos de saúde, tornando-os menos invasivos, mas ouvir os doentes e informá-los de que se está a tentar minimizar o desconforto também é realmente poderoso e deve ser o foco de todos os programas de treino em saúde”, afirma Asokumar Buvanendran, coautor do estudo, presidente do Comité de Anestesiologista da Sociedade Americana de Medicina da Dor.
“Ser gentil faz uma grande diferença na experiência do doente, e isso é bom para todos.”