Tapar a boca com fita adesiva na hora de dormir, uma tendência crescente em redes sociais como o TikTok, pode traduzir-se em riscos graves para a saúde, sobretudo para quem sofre de distúrbios respiratórios do sono e apneia obstrutiva do sono, revela um estudo publicado na revista PLOS One.
Não só os riscos podem ser elevados, como não foram também encontradas fortes evidências de benefícios para a saúde, na sequência da investigação realizada por especialistas de instituições canadianas.
A tendência passa por colocar fita adesiva sobre a boca para parar a “respiração pela boca” e promover a respiração pelo nariz durante o sono. Foi recomendado por muitos influenciadores nas redes sociais e celebridades que afirmam que pode proporcionar um sono melhor, uma saúde oral melhorada e ter resultados antienvelhecimento.
“Ficámos preocupados ao ver que as celebridades e os influenciadores estavam a apoiar o uso de fitas adesivas na boca sem provas científicas”, afirma Brian Rotenberg, investigador envolvido neste trabalho. “Na linguagem dos influenciadores das redes sociais, parecia um pouco ‘suspeito’, por isso examinámos o que a ciência nos está a dizer sobre esta tendência e se é segura ou não.”
Juntamente com a sua equipa, o investigador examinou 86 estudos científicos existentes sobre o tema, incluindo uma revisão aprofundada de 10 estudos que representam a experiência de 213 doentes. E verificaram que não há provas científicas sólidas de benefícios para a saúde associados ao uso da fita adesiva, o que contradiz as alegações nas redes sociais.
Mais ainda, pode agravar um distúrbio respiratório do sono existente ao restringir o fluxo de ar, colocando stress adicional sobre o sistema respiratório e aumentando o risco de asfixia quando os doentes apresentam obstrução nasal.
“A nossa investigação mostra que tapar a boca com fita adesiva durante o sono é perigoso, sobretudo para aqueles que podem não saber que têm apneia do sono”, acrescenta Rotenberg, que também é otorrinolaringologista e cirurgião do sono no St. Joseph’s Health Care London e no London Health Sciences Centre, no Canadá.
“Estes indivíduos, sem saber, estão a piorar os seus sintomas e a colocar-se em maior risco de complicações de saúde graves, como doenças cardíacas.”
Rotenberg e a sua equipa destacam a importância da investigação em saúde no combate à desinformação e à pseudociência. “É fácil que a desinformação se espalhe pelas redes sociais; já o vimos inúmeras vezes nos últimos anos”, diz Jess Rhee, residente na Escola de Medicina e Odontologia Schulich.
“Precisamos de tomar decisões de saúde baseadas em provas científicas sólidas. A nossa esperança é que as pessoas deixem de tapar a boca com fita adesiva durante o sono e reconheçam que isso é perigoso.”
