
Afinal, ter um enfarte não tem de ser sinónimo de abandonar a rotina. Os doentes que queiram voltar ao trabalho após um enfarte são capazes de o fazer, conclui um artigo científico publicado esta quinta-feira no European Journal of Preventive Cardiology, da Sociedade Europeia de Cardiologia.
Cerca de 67% a 93% dos doentes vítimas de um enfarte regressam ao trabalho três meses após o evento. No entanto, um em cada quatro desiste de trabalhar ao fim de um ano e as razões são maioritariamente psicológicas.
Depressão, falta de confiança ou até a ansiedade, sempre associados a crença de não serem capazes de se ajustar ao antigo estilo de vida, são as principais razões que levam ao abandono do mercado de trabalho.
Para combater esta taxa de insucesso de reintegração laboral, é aconselhado que estes doentes frequentem consultas de reabilitação cardíaca, que são realizadas por uma equipa multidisciplinar com profissionais da área da cardiologia e psicologia e têm como objetivo ajudar a preparar o regresso à vida ativa.
Soluções para regressar após um enfarte
Não trocar de emprego, trabalhar menos horas por semana ou trabalhar a partir de casa são algumas das soluções que podem facilitar o regresso ao trabalho, bem como fazer mais pausas ou até delegar algumas funções.
“Os doentes que acreditam serem capazes de fazer o seu trabalho e que têm vontade de regressar vão ter sucesso”, afirma Rona Reiblis, a principal investigadora da European Association of Preventive Cardiology (EAPC).
“É muito raro haver pacientes que após um enfarte fiquem impossibilitados de retomar as funções que desempenhavam antes, mesmo que sejam trabalhos pesados.”
Este abandono precoce do ambiente laboral é bastante acentuado entre doentes com funções que exigem um maior esforço físico, pois há várias complicações decorrentes do enfarte que podem diminuir a resistência e força física.
Mas a probabilidade de abandono da vida laboral é ainda maior se forem doentes com cerca de 30 anos e com historial de obesidade e tabagismo associado.
No que toca ao género, são as mulheres que mais optam por desistir de trabalhar ao fim de um ano, principalmente se o enfarte ocorrer após os 55 anos. Tal acontece, pois as mulheres apresentam uma maior insegurança na sua capacidade em regressar ao trabalho, especialmente se tiverem de desempenhar funções que possam exigir um maior esforço físico.