Um coração doado pode ser transportado e preservado durante mais tempo através de um novo método, que consiste numa caixa cardíaca especialmente desenhada para o efeito, usada pela primeira vez no verão de 2017. Avaliada num primeiro estudo clínico, os seus resultados são publicados na revista Nature Communications, deixando antever a possibilidade de transplantes de coração mais seguros no futuro.
“Embora seja muito cedo para tirar conclusões de longo prazo, estamos obviamente esperançosos”, refere Johan Nilsson, cirurgião cardiotorácico do Hospital Universitário Skåne e professor da Universidade Lund, na Suécia.
“Se os nossos resultados continuarem positivos, esta novidade pode vir a fazer uma grande diferença para aqueles que precisam de transplantes de coração.”
O método envolve preservar e transportar o coração doado numa caixa cardíaca especialmente desenhada para o efeito, que dispõe de substâncias importantes presentes numa solução oxigenada e misturada com sangue.
Uma das suas grandes vantagens é permitir um tempo de preservação mais longo, o que, por sua vez, pode significar que o coração doado pode vir a ser transportado mais longe do que aquilo que é atualmente possível.
O estudo agora divulgado envolveu seis doentes, que fizeram transplantes cardíacos nos quais o coração foi preservado e transportado através do novo método.
Ao todo, 25 doentes integraram um grupo de controlo, o que significou que receberam o órgão a transplantar através do método tradicional de preservação.
“Nenhum dos seis doentes que receberam o coração novo através do novo método sofreram complicações, no entanto, existiram complicações em alguns dos doentes do grupo de controlo”, afirma Johan Nilsson, como insuficiência cardíaca, rejeição aguda ou morte do doente.
A esperança é que, no futuro, os corações possam ser preservados nesta caixa especial até 12 horas. Há alguns anos, tinham já sido realizados testes com corações de porco que, através do novo método, sobreviveram um total de 24 horas fora do corpo. No entanto, o presente estudo testou no máximo quatro horas e meia, em comparação com os métodos atuais, que não vão além das quatro.
Estudo prossegue com mais transplantes de coração
“Com base nos resultados até agora, não podemos afirmar com certeza que somos capazes de preservar um coração ao longo de 12 horas; no entanto, o nosso estudo mostra que o novo método permite uma preservação mais longa do que a que existe hoje”, refere o especialista.
“Se nós, na investigação que continua a realizar-se, pudermos estabelecer que isso é possível, isso significaria novas oportunidades para os transplantes. Seria, por exemplo, possível levar corações para outros países, o que atualmente não pode ser feito.”
O plano é, acrescenta, testar em breve o novo método com um grupo de 33 doentes. “Além dos seis que participaram no estudo, usaremos o método em mais nove transplantes.”