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Cultivar a espiritualidade pode reduzir a pressão arterial

pressão arterial

Pessoas com pressão arterial elevada viram-na cair, em média, 7 mmHg, e sentiram melhorias noutros marcadores de saúde associados aos vasos sanguíneos após receberem mensagens diárias nos seus smartphones, ao longo de 12 semanas, feitas com o objetivo de cultivar a espiritualidade, mostra um estudo apresentado na Sessão Científica Anual do Colégio Americano de Cardiologia.

Cerca de 2,7 milhões adultos portugueses têm pressão arterial alta, ou hipertensão, um problema de saúde que muitas vezes não apresenta sintomas. E, apesar dos medicamentos disponíveis e das intervenções no estilo de vida que podem fazer a diferença, muitos são os que continuam com este problema por controlar.

Estudos anteriores associaram certas intervenções baseadas na espiritualidade, incluindo meditação e interações sociais positivas, com benefícios para a saúde cardiovascular, mas a maioria das pesquisas sobre este tema tem sido observacional, tornando difícil confirmar quaisquer benefícios.

Neste estudo, os investigadores exploraram se a espiritualidade, definida como valores morais e pessoais que orientam as nossas vidas e relacionamentos, podem ajudar a controlar a pressão arterial e melhorar a saúde cardíaca.

“Com este nível significativo de redução da pressão arterial, a pessoa seria potencialmente capaz de viver mais tempo, com menos risco de ataque cardíaco, doenças renais, acidente vascular cerebral ou incapacidade mais tarde na vida”, refere Maria Emília Teixeira, cardiologista da unidade de hipertensão da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, no Brasil e autora principal do estudo.

“Esta queda de 7-mmHg é uma redução maior do que a observada com outras intervenções não farmacológicas e pode até superar a de alguns medicamentos.”

Mensagens que baixam a pressão arterial

Embora a religião seja um caminho através do qual as pessoas podem alcançar a espiritualidade, os investigadores procuraram descobrir se uma intervenção centrada no cultivo do otimismo, da gratidão e do perdão, sem associação a uma tradição religiosa específica, podia ter impacto na saúde.

Para isso, inscreveram 100 pessoas que se encontravam em tratamento para a hipertensão num centro médico no Brasil e dividiram-nas, de forma aleatória: metade recebeu uma intervenção baseada na espiritualidade e a outra metade nenhuma intervenção.

E em que é que consistia a intervenção da espiritualidade? Os participantes recebiam diariamente uma mensagem via WhatsApp contendo frases curtas e vídeos que os incentivavam a fazer uma pausa e refletir, focar em determinados valores ou propósito de vida, ou realizar uma tarefa breve, como escrever uma mensagem de gratidão. Os investigadores conseguiram rastrear quais os participantes que abriram as mensagens e completaram as tarefas solicitadas, mas não mediram o nível de envolvimento com elas.

No início do estudo e às 12 semanas, todos os participantes foram a uma consulta que incluiu avaliações de hábitos de vida e uso de medicamentos, pressão arterial e dilatação fluxo-mediada, uma medida não invasiva da saúde dos vasos sanguíneos. Registaram ainda a sua pressão arterial em casa durante um período de cinco dias no início e no final do estudo.

No fim de 12 semanas, os participantes que receberam a intervenção de espiritualidade tiveram uma queda significativa na pressão arterial em comparação com a sua própria pressão arterial basal, bem como com as medições finais do grupo de controlo. Tiveram ainda uma melhora significativa na dilatação fluxo-mediada, que aumentou 4,5% entre aqueles que receberam a intervenção.

Os investigadores afirmaram que a intervenção é simples de desenvolver e testar, tornando potencialmente viável a sua expansão numa vasta população, com a ressalva de que a abordagem requer acesso a um dispositivo ligado à Internet, o que pode limitar a sua acessibilidade em algumas populações. Confirmam ainda que a abordagem pode ser estendida para explorar outros fatores, como compaixão e satisfação com a vida.

“Isto é absolutamente acessível e seria fácil de testar ou implementar em diferentes países”, refere Teixeira. A principal limitação do estudo é o tamanho da amostra, relativamente pequeno, sendo necessários estudos maiores para confirmar os benefícios observados.

 

Credito imagem: Thirdman (Pexels)

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