O receio inicial, manifestado por alguns nos primeiros tempos da pandemia, deu lugar ao desejo, que se faz acompanhar pela necessidade de retomar o que a Covid-19 obrigou a adiar, sejam rastreios, exames, consultas ou tratamentos. Porque “para quem está doente o tempo conta”, mensagem de uma campanha que junta várias associações de doentes, unidas à volta da importância de se encontrar uma solução que permita dar resposta à pandemia, sem colocar em causa o acompanhamento e cuidados de saúde de outros doentes.
Atualmente, e segundo um estudo agora divulgado, a maioria dos portugueses (60%) sente-se segura ou relativamente segura nas deslocações aos serviços de saúde.
A Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), a Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), a Careca Power, a EVITA – Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário, a RESPIRA – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), juntam-se numa campanha de sensibilização, que conta com o apoio da AstraZeneca, e que pretende relembrar que “o acesso aos cuidados de saúde é um direito de todos”.
De acordo com o mesmo inquérito, durante o primeiro Estado de Emergência, apenas 28,8% dos portadores de doença crónica, como diabetes, doença cardíaca, doença respiratória ou doença oncológica, recorreram a um serviço de saúde para uma consulta ou tratamento.
Findo este período, a percentagem subiu para cerca de metade: 53% confirmam ter ido, com apenas 5,8% a admitir ter faltado por receio da pandemia. Uma deslocação que, para 67% dos doentes que a fizeram, foi considerada segura ou relativamente segura.
Sobre o acompanhamento de pessoas com e sem doença crónica, o estudo revela a importância do papel do médico de família.
Durante o Estado de Emergência (entre março e maio), dos 50% de doentes crónicos que recorreram a aconselhamento não presencial, 48% fizeram-no junto do médico de família ou de outro tipo de profissional. O mesmo se verificou entre os 26,4% dos que, sem doença, recorreram ao mesmo tipo de aconselhamento: 47,4% fizeram-no também junto do médico de família.
Pandemia tem impedido acesso a cuidados de saúde
Numa declaração conjunta, as associações de doentes que se unem nesta campanha afirmam que “os dados deste inquérito confirmam que não é o medo da pandemia que tem impedido os doentes e a população em geral de acederem aos cuidados de saúde. As pessoas querem voltar a ser atendidas presencialmente, querem ter resposta para os seus problemas de saúde, que nada têm que ver com a COVID-19. Enquanto associações de doentes, é nosso dever alertar e sensibilizar para esta situação e fazer ouvir a nossa voz, reforçando que só trabalhando em conjunto poderemos encontrar uma solução que permita dar resposta à pandemia, sem colocar em causa o acompanhamento de outros doentes, nomeadamente, os crónicos”.
Acompanhamento esse que, segundo as mesmas, não está a ser devidamente assegurado, o que poderá explicar o excesso de mortalidade registado em Portugal desde o início da pandemia.
De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, entre março a outubro de 2020 registaram-se 72.519 óbitos, mais 7.936 do que a média do período homólogo dos cinco anos anteriores. Destes, a Covid-19 foi responsável por 2.198 óbitos, o que representa 27,5% do total do aumento da mortalidade.
Neste sentido, as associações de doentes, mostram-se “disponíveis para fazer parte da solução”, esperando “ser ouvidos, a par de outras entidades do setor da saúde, na qualidade de representantes dos doentes crónicos”.
O apelo é subscrito pela APAH, que embora reconheça “que os hospitais se encontram numa situação crítica, o objetivo tem de ser também assegurar a resposta a todos os que precisam de cuidados de saúde”.4
A uma só voz, as entidades promotoras desta campanha referem que “é importante que se encontrem soluções para que a resposta aos doentes não-Covid não fique comprometida, sob pena de não se conseguir recuperar os atrasos verificados desde o início da pandemia, que terão impacto não só nos custos para o SNS, como no aumento da morbimortalidade destes doentes”.
O inquérito à população foi realizado por via dos métodos CATI (Telefónico) e CAWI (online) a uma base de dados de indivíduos registada na plataforma da multidados.com, os quais foram convidados a participar no estudo anónimo, entre os dias 14 de setembro e 02 de outubro de 2020. Foram recolhidas e validadas 1000 respostas. A margem de erro é de ±3%, considerando p=q=50 e 95% de margem de confiança.
Mais informações sobre a campanha em www.saudeflix.pt