Níveis altos de colesterol durante a adolescência podem causar lesões cardíacas estruturais e funcionais e levar a problemas de coração mais cedo e até à morte. O que um novo estudo vem agora mostrar é que um controlo mais precoce destes níveis pode evitar que 20% da população adulta desenvolva problemas cardíacos evitáveis.
Os dados da Organização Mundial de Saúde confirmam que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte a nível mundial, roubando mais de 17,9 milhões de vidas todos os anos. Este novo estudo, realizado por especialistas da Universidade de Exeter e de Universidade de Bristol, no Reino Unido, e da Universidade da Finlândia Oriental, revela que o colesterol elevado e a dislipidemia em crianças e adolescentes aumenta o risco de morte prematura (à volta dos 40 anos de idade) e de problemas cardíacos, como a aterosclerose subclínica, (na casa dos 20 anos).
Andrew Agbaje, especialista da Universidade de Exeter e líder do trabalho, afirma que estes resultados mostram que é preciso começar a controlar mais cedo os níveis de colesterol. “Estamos a ver as primeiras provas dos efeitos catastróficos dos níveis elevados de colesterol no coração mais de duas décadas antes dos 40 anos – que é quando as atuais orientações de saúde recomendam o controlo do colesterol. Esperar até aos 40 anos pode levar a que uma em cada cinco pessoas adultas desenvolva problemas cardíacos que podem ser evitados.”
Para reduzir o risco de dislipidemia, a proposta vai no sentido de um rastreio universal dos lípidos em idade pediátrica, incluindo a potencial adoção de um “passaporte do colesterol para adolescentes”, que visa ajudar a acompanhar o aumento dos níveis de colesterol e iniciar um tratamento preventivo atempado na população jovem.
Sedentarismo e colesterol
O estudo avaliou dados de 1.595 adolescentes (955 dos quais do sexo feminino), com 17 anos no início e que foram seguidos durante sete anos até aos 24 anos. Os níveis de colesterol e as evidências de danos no coração foram avaliados no início e no seguimento e, com um controlo exaustivo da massa gorda, da massa muscular, da insulina, da glicose, da inflamação, da pressão arterial, do tabagismo, do tempo de sedentarismo, da atividade física, do estatuto socioeconómico e da história familiar de doenças cardiovasculares, observou-se que o aumento dos níveis de colesterol de lipoproteínas de baixa densidade, de colesterol de lipoproteínas de alta densidade e de colesterol total aumentava o risco de lesões cardíacas prematuras em 18 a 20%.
Por outro lado, o aumento dos triglicéridos duplicou e triplicou o risco de lesões cardíacas estruturais e funcionais prematuras no prazo de sete anos.
Estes resultados foram observados tanto em adolescentes com peso normal como naqueles considerados com excesso de peso ou obesos e alguns foram também observados entre os adolescentes com pressão arterial normal, afetando homens e mulheres da mesma forma.
Descobriu-se ainda que, enquanto o aumento do colesterol contribuía em 30% para as lesões diretas do coração, tanto o aumento da massa gorda como da pressão arterial contribuíam indiretamente em 40% para as lesões cardíacas. Os restantes 30% podem ser explicados pela genética e pelo sedentarismo.
“Recentemente, descobrimos que o aumento do tempo de sedentarismo desde a infância contribuiu para 70% do aumento do nível de colesterol antes de meados dos 20 anos e que a prática de uma atividade física ligeira pode inverter completamente o aumento do colesterol e da dislipidemia”, reforça Andrew Agbaje, da Universidade de Exeter.
“No seu conjunto, estes resultados sugerem que o sedentarismo está na origem dos problemas de saúde e que o sedentarismo na infância e na adolescência é um bilhete de ida para as doenças cardiovasculares e a morte.”