O acidente vascular cerebral é um dos problemas de saúde que mais mata em Portugal (dados de 2015 apontavam-no como responsável por cerca de 30% dos óbitos) e motivo de incapacidade para quem a ele sobrevive. O que muitos talvez não saibam é que a maioria poderia e pode ser evitada.
“Trata-se de modificar o seu risco, para que não tenha um AVC”, confirma Alicia Richardson, especialista em enfermagem clínica do Penn State Health Stroke Center, nos Estados Unidos.
“E a maioria dos fatores de risco pode ser gerida completamente num ambiente de cuidados primários.”
A começar pela pressão alta, o fator de risco número um, mas modificável, apesar de “assintomático para muitas pessoas”, confirma Raymond Reichwein, neurologista e diretor médico do Stroke Center.
Recomendam-se, por isso, verificações periódicas da pressão arterial pela manhã, tarde e noite, uma vez que esta pode variar ao longo do dia. Se um indivíduo desenvolver hipertensão, a boa notícia é que existem muitos medicamentos eficazes para gerir este problema e reduzir o risco de AVC.
Segue-se o colesterol alto e a diabetes tipo 2, também estes fatores de risco significativo para AVC e que, uma vez mais, podem ser geridos de forma eficaz com hábitos de vida saudáveis ou medicação.
E atenção, que mesmo os pré-diabéticos, ou seja, que apresentam um nível de açúcar no sangue acima do normal, mas não elevado o suficiente para serem diabéticos tipo 2, apresentam duas vezes mais risco de AVC do que alguém com um nível normal de açúcar.
Fatores de risco que se podem controlar
Outras causas controláveis do acidente vascular cerebral incluem a doença arterial obstrutiva da artéria carótida e fibrilhação auricular.
A primeira, responsável por aproximadamente 15% dos AVC, pode ser facilmente avaliada durante um check-up de rotina. “É tão simples como usar um estetoscópio para ouvir sons anormais no pescoço, que sugerem um bloqueio”, explica Reichwein. E, caso estes existam, há também formas de resolver o problema.
No que diz respeito à fibrilhação auricular, que até um quarto da população pode vir a desenvolver à medida que envelhece, são muitos os que dela sofrem sem sintomas. E, à medida que envelhecem, esta torna-se um fator de risco mais forte para AVC.
“Pode levar a AVC devastadores e debilitantes em alguém que, de outra forma, pode ser um indivíduo bastante saudável”, refere o especialista.
“A chave é identificá-lo quando é subclínico. Existem dispositivos que monitorizam a frequência cardíaca e fornecem informações sobre uma possível fibrilhação auricular.
Para as pessoas que ressonam, fica também alerta. É que a apneia obstrutiva do sono é também um fator de risco para AVC, sendo aconselhado que pessoas com excesso de peso e com um tamanho maior de pescoço, sejam rastreadas para esse distúrbio.
Finalmente, existem comportamentos no estilo de vida que podem aumentar o risco de AVC: tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade e inatividade física são alguns, todos modificáveis.
Os sinais de alerta para o acidente vascular cerebral
O tempo é vida no caso dos AVC. Se o tratamento, após um AVC, puder ser feito até quatro horas e meia desde o início dos sintomas, o coágulo causador de incidente pode ser dissolvido, restaurando o fluxo sanguíneo e reduzindo os danos cerebrais.
Para isso, é preciso reconhecer os sintomas e agir de forma rápida, estando atento a perda de força num braço ou perna, desvio na cara, boca ao lado ou paralisia facial e perturbação súbita da fala, falta de compreensão das palavras e confusão, devendo ligar-se, de imediato, para o 112.