Mais de 200 genes ligados à depressão foram recentemente identificados num estudo mundial realizado por investigadores da University College London, naquele que foi o primeiro estudo global em grande escala sobre a genética da depressão major em participantes de diversos grupos de ascendência.
A investigação, publicada na revista Nature Genetics, encontrou mais de 50 novos loci genéticos (um locus é uma posição específica num cromossoma) e 205 novos genes associados à depressão. E revela ainda o potencial de utilização de medicamentos já existentes para tratar outras doenças, ao mesmo tempo que aponta para novos alvos para medicamentos que podem ser desenvolvidos para tratar a depressão.
A depressão é muito comum, mas a forma como se desenvolve é ainda mal compreendida. A investigação genética com recurso a grandes volumes de dados oferece novas vias para a compreender e revelou dezenas de genes associados a este problema, cada um dos quais que confere individualmente apenas um pequeno aumento do risco.
Pode também ajudar a encontrar novos alvos para os medicamentos, mas até agora a investigação tem-se centrado sobretudo em pessoas de ascendência europeia, o que, segundo os investigadores, é uma grande lacuna, sobretudo para uma doença tão complexa como esta.
Compreensão da doença passa pelos genes
O novo estudo envolveu vários métodos de investigação genética, com a equipa internacional de investigação a analisar dados genéticos de quase um milhão de participantes de estudos de ascendência africana, asiática oriental, sul-asiática e hispânica/latino-americana, incluindo 88.316 pessoas com depressão grave.
“Aqui mostramos, sem margem para dúvidas, que a nossa compreensão de doenças tão complexas como a depressão permanecerá incompleta enquanto não ultrapassarmos o preconceito eurocêntrico na investigação genética e não procurarmos as causas em diversas pessoas de todo o mundo”, afirma Karoline Kuchenbaecker, a autora principal.
“Muitos genes que anteriormente se verificou estarem associados ao risco de depressão podem, na realidade, apenas afetar o risco de depressão em pessoas de origem europeia, pelo que, para que a investigação genética contribua para novos medicamentos que possam ajudar pessoas de todas as ascendências, é vital que os nossos conjuntos de dados genéticos sejam adequadamente diversificados”, acrescenta.
Sobre o estudo, refere tratar-se “de um esforço de descoberta numa primeira fase, pelo que será necessário mais trabalho para confirmar estes novos alvos, mas encontrá-los em primeiro lugar foi um desafio enorme e vital, sobretudo para uma doença em que são urgentemente necessários novos medicamentos”.