
Por cada 1000 crianças que nascem com vida em Portugal, cerca de oito a 10 apresentam anomalias cardíacas congénitas, pelo que é importante que os pais saibam que a deteção precoce e a sensibilização são essenciais para garantir os melhores resultados para os bebés com problemas cardíacos.
Mark Sklansky é chefe do departamento de cardiologia pediátrica no UCLA Mattel Children’s Hospital, nos EUA, e partilha informação sobre como as doenças cardíacas congénitas são detetadas, o que os pais devem observar e como as famílias podem apoiar a saúde cardíaca dos seus filhos.
“As anomalias cardíacas congénitas são anomalias estruturais do coração que se desenvolvem antes do nascimento”, explica o médico. E a maioria destes problemas não tem, confirma, “uma causa identificável. Na maioria dos casos, não sabemos porque ocorrem. Esta é uma preocupação comum entre os pais, que muitas vezes se questionam se fizeram algo de errado ou se deixaram de fazer algo que deveriam, o que levou ao desenvolvimento de anomalias cardíacas congénitas. A realidade é que, na grande maioria dos casos, os pais fizeram tudo bem – os defeitos cardíacos ocorrem simplesmente com muito mais frequência do que a maioria das pessoas pensa”.
O diagnóstico precoce é uma das melhores formas de melhorar o prognóstico e, aqui, Sklansky refere que deve ocorrer “logo após o nascimento, antes de o bebé ter alta hospitalar ou, idealmente, antes do nascimento”. De facto, “a melhor forma de garantir um resultado ideal é detetar o defeito durante a gravidez, geralmente por volta das 20 semanas”, embora muitos só sejam detetados algum tempo depois do nascimento.
Nesta altura, o médico refere que a melhor oportunidade de diagnóstico “é durante o período neonatal, antes de o bebé ir para casa. Infelizmente, muitos casos de cardiopatia congénita, mesmo as formas graves, só são detetados após a alta hospitalar”. Quando isto acontece, diz ser “da responsabilidade dos médicos, enfermeiros e familiares reconhecer possíveis sinais sugestivos de anomalias cardíacas congénitas. Os bebés com suspeita de defeito cardíaco são normalmente encaminhados para um cardiologista pediátrico para uma avaliação mais aprofundada, que deve incluir a realização de um ecocardiograma e, possivelmente, um eletrocardiograma”.
E quais são os primeiros sinais de que um bebé pode ter um problema cardíaco? “Muitos defeitos cardíacos congénitos não apresentam sintomas evidentes, mas há sintomas que pedimos aos pais que observem, incluindo dificuldade em respirar, respiração rápida, alimentação inadequada ou coloração azulada da pele. As crianças mais velhas podem relatar dor no peito, tonturas ou palpitações”.
No entanto, acrescenta, a maioria dos sintomas de doenças cardíacas são inespecíficos, “o que torna difícil para os pais determinarem a causa. Nestes casos, o ideal é procurar a avaliação de um pediatra, que poderá avaliar a criança e, se necessário, encaminhá-la para um cardiologista pediátrico ou solicitar um ecocardiograma”.
Crescer com anomalias cardíacas congénitas
A presença de anomalias cardíacas congénitas pode exigir cirurgia ou outro tipo de tratamentos, ainda que, refere o médico, “apenas cerca de um quarto a um terço deles necessitam de intervenção invasiva durante o primeiro ano”. O objetivo é, reforça, “minimizar quaisquer problemas cardíacos adicionais evitáveis. Isto inclui a promoção de uma dieta saudável para o coração e um estilo de vida ativo para reduzir o risco de doença arterial coronária adquirida. Estes fatores são especialmente importantes para as crianças que já nasceram com um defeito cardíaco.”
A boa notícia é que “a maioria das crianças com anomalias cardíacas congénitas pode levar uma vida plena e ativa, incluindo a participação em desporto e outras atividades físicas. Devem ser encorajados a viver uma vida o mais normal possível. No passado, muitas crianças muitas crianças eram desencorajadas a fazer exercício, mas agora reconhecemos que a atividade física é especialmente importante para a sua saúde geral e longevidade”.
No início, explica o médico, “quando os nossos doentes são bebés, o nosso foco como cardiologistas pediátricos é ajudar os bebés com doença cardíaca congénita a ganhar peso, geralmente através de alimentos ricos em calorias. Os pais adotam esta mentalidade, priorizando o aumento de peso como a chave para otimizar os resultados. No entanto, à medida que as crianças crescem, as suas necessidades alimentares mudam, mas as mentalidades mudam mais lentamente. A ênfase deve mudar para uma dieta saudável para o coração e para a prática regular de exercício físico — não apenas para a saúde cardiovascular, mas também para o bem-estar emocional e social dos nossos doentes e das suas famílias”.
Mitos e ideias erradas
Há um equívoco comum que o médico gostava de ver esclarecido: “que as anomalias cardíacas congénitas são raras, quando na verdade são o defeito congénito mais comum”.
Outro erro comum é pensar que “as crianças com anomalias cardíacas congénitas devem evitar o exercício e o desporto. Esta crença pode ser prejudicial de muitas maneiras. É fundamental enfatizar, tanto junto dos pais como das crianças, que a atividade física não só é permitida, mas também fortemente encorajada, sobretudo para aqueles com problemas cardíacos, uma vez que desempenha um papel vital na sua saúde geral. Os detalhes sobre os tipos de exercício adequados podem e devem ser discutidos com os cardiologistas pediátricos”.